sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Angola e os mártires da repressão colonial

O Jornal de Angola evocou na sua edição de ontem os heróis da Baixa do Cassanje, que em Janeiro de 1961 foram vítimas da repressão colonial portuguesa. Trata-se de um episódio pouco conhecido do colonialismo português, como de resto são os acontecimentos de Batepá (S. Tomé e Príncipe, 1953). do Pidjiguiti (Guiné-Bissau, 1959) e de Mueda (Moçambique, 1960).
Nos primeiros dias de Janeiro de 1961, os trabalhadores das plantações algodoeiras da companhia luso-belga Cotonang, na Baixa do Cassanje, decidiram fazer um protesto contra as suas condições de trabalho e armaram-se de catanas e canhangulos, desafiando as autoridades portuguesas e destruindo plantações, casas e pontes. Este movimento tinha sido incentivado pela recente independência do Congo Belga, uma vez que os povos do Congo e os daquela região angolana tinham raízes étnicas e culturais comuns e, portanto, se os povos do Congo já eram independentes, os povos daquela região também tinham essa aspiração. Os colonos portugueses foram os primeiros a reprimir o protesto, mas o Exército também foi chamado, tal como a Força Aérea. Os relatos diferem quanto ao que se passou, mas perderam-se muitas vidas na repressão que ficou conhecida como o “massacre da Baixa do Cassanje”.
As autoridades angolanas assinalam a efeméride como uma data de celebração nacional, considerada o Dia dos Mártires da Repressão Colonial, em que segundo os angolanos “morreram milhares de pessoas”, embora alguns estudos refiram que “teria havido entre duzentas e trezentas mortes entre os revoltosos”.
Apesar de se tratar de um acontecimento muito grave, não foi noticiado na imprensa portuguesa da época, o que torna mais difícil o apuramento da verdade.