Realizou-se ontem
na Catalunha uma consulta popular, designada pela imprensa como um “referendo
alternativo” e que foi organizada pelo governo autónomo da Catalunha, apesar de
ter sido proibida pelo governo espanhol e pelo Tribunal Supremo de Espanha.
Essa proibição assentou no facto da Constituição espanhola não autorizar que as
comunidades autónomas submetam a votação ou a referendo qualquer questão
relacionada com a soberania nacional.
O universo
eleitoral catalão é de 6.228.531 eleitores e, segundo os resultados já apurados, votaram 2.220.669 eleitores (participação de 35,6%), verificando-se que
80% dos votantes, isto é, 1.776.535
eleitores, “querem que a Catalunha seja um Estado independente” e que 10% “querem
que a Catalunha seja um Estado, mas não independente”.
As comparações com
as últimas eleições realizadas na Catalunha são inevitáveis.
Nas últimas
eleições legislativas realizadas em 2011, os partidos favoráveis à realização
de um referendo vinculativo receberam 1,5 milhões de votos. Nas eleições
autonómicas catalãs realizadas em 2012 os partidos favoráveis à realização de
um referendo vinculativo receberam 2,15 milhões de votos. Nas eleições
europeias de 2013 os partidos favoráveis à realização de um referendo
vinculativo receberam 1,4 milhões de votos. Agora foram 1,77 milhões a votar pela independência catalã. Significa, conforme se tem
observado nos últimos actos eleitorais, que nada mudou substancialmente e que se confirma que cerca
de um terço do eleitorado catalão quer a independência.
Estes resultados
tiveram todas as leituras na imprensa espanhola. Uns jornais falam de “farsa y
desobediencia (ABC), outros falam de “pleno
soberanista” (el Periodico), outros
destacam a declaração de Artur Mas: “ahora el referéndum definitivo” (El País). Porém, o mais equilibrado parece
ser o Expansión que escolhe como
título: "Cataluña, la hora de buscar soluciones”.
O independentismo
catalão assenta no princípio de que a Catalunha é uma nação e que não alcançará
a sua plenitude cultural, social e económica enquanto fizer parte da Espanha.
Luta por esse objectivo usando as armas da democracia e, pela via pacífica,
deseja alcançar o direito à autodeterminação e à independência. Porém, a
ambição territorial catalã não se fica pelo território da comunidade autónoma e
reivindica a absorção de outras regiões espanholas e partes da França (Rossilhão) e de Itália
(Sardenha). Assim, nem Bruxelas, nem Paris, nem Roma, entre muitas outras
capitais, apoiam as aspirações catalãs, até porque há muitas catalunhas por essa Europa fora.