sábado, 4 de janeiro de 2020

Qasem Soleimani e a alta tensão no Irão


O assassinato do general Qasem Soleimani tem dominado o noticiário internacional e gerou uma invulgar onda de preocupações, a par de um generalizado apelo para a contenção das partes. Da leitura da imprensa internacional há duas ideias que se destacam: do lado americano a declaração de Donald Trump de que “we took action to stop a war… not to start a war”, enquanto do outro lado se fazem duras ameaças no sentido de que seja vingado o seu herói assassinado. Ambas as ideias pretendem satisfazer as opiniões públicas internas, num caso para reeleger Donald Trump e fazer esquecer o seu processo de impeachment, enquanto no outro se trata de uma reacção à humilhação que foi o assassinato de Bagdad, para dar coesão ao actual regime.
Durante o dia de hoje puderam ouvir-se os comentários de inúmeros especialistas sobre os acontecimentos ocorridos em Bagdad e as suas opiniões quanto ao que pode acontecer nos próximos tempos, mas não se viu ninguém a ter a ousadia de fazer previsões, até porque as políticas americana e iraniana têm sido demasiado errantes naquela região.
Porém, a imagem de capa da edição de hoje do Iran Daily talvez esclareça alguma coisa, pois não é apenas uma homenagem ao general Qasem Soleimani, a quem se atribui o principal mérito pela derrota do Daesh, mas é também um elemento mediático de mobilização popular em torno da figura do mártir e de apoio à “harsh revenge” prometida pelo ayatollah Ali Khamenei. Para continuar a desafiar a América de Trump, o regime iraniano também precisava de ter o seu mártir e foi o próprio presidente dos Estados Unidos que o criou. 
Nesta incerteza, associo-me aos que estão preocupados quanto ao que possa acontecer e, como dizia o outro, previsões só depois do jogo…

Angola e o episódio da Baixa de Cassanje


O Jornal de Angola assinala hoje o Dia dos Mártires da Repressão Colonial, evocando o massacre da Baixa de Cassanje que “abriu caminho para a liberdade” e “inspirou a luta de libertação nacional”.
Aconteceu há 59 anos, no dia 4 de Janeiro de 1961. Os trabalhadores agrícolas das plantações algodoeiras da companhia luso-belga Cotonang, na Baixa de Cassanje, decidiram fazer um protesto contra as suas condições de trabalho, armaram-se de catanas e canhangulos e desafiaram as autoridades portuguesas, destruindo plantações, casas e pontes, num movimento incentivado pela recente independência do ex-Congo Belga, uma vez que os povos do Congo e daquela região de Angola tinham raízes étnicas comuns e, por isso, se os povos do Congo já eram independentes, os povos de Angola também tinham essa aspiração. Os colonos portugueses foram os primeiros a reprimir o protesto, mas as tropas coloniais foram também chamadas e o terrível massacre aconteceu.
Os relatos destes acontecimentos diferem, pois enquanto o Jornal de Angola refere que “foram brutalmente mortos mais de vinte mil camponeses pelas tropas coloniais”, alguns estudos já produzidos concluem que “teria havido entre duzentas e trezentas mortes entre os revoltosos”. Só o rigor da História poderá esclarecer a dimensão deste trágico acontecimento, mas é evidente que a verdade está bem longe dos números que a propaganda anti-colonial então criou e que a soberana República Popular de Angola repete, certamente para estimular os sentimentos de unidade nacional e para manter acesa “a chama gloriosa da independência nacional”.