domingo, 1 de dezembro de 2019

A globalização do protesto e da incerteza


O diário catalão ara é publicado em Barcelona, tem apenas nove anos de idade, utiliza a língua catalã e tem tendências pró-independentistas. A sua edição de hoje é dedicada aos revoltats que, em diferentes locais do mundo e por razões sem qualquer relação directa entre si, se estão a manifestar de forma violenta. 
A insatisfação e a revolta explodem de repente, muitas vezes por razões insignificantes, com enorme violência nas ruas a que responde a repressão policial. Embora com origens e motivações diferentes, estes protestos têm características comuns e uma delas é não haver uma liderança clara da mobilização popular. Este "modelo" está a espalhar-se e a revolta local está a ter contornos de revolta global. Em França são os coletes amarelos e a sua reacção ao aumento do preço dos combustíveis; no Chile, que se tornou o laboratório da economia neo-liberal, o pretexto foi o aumento do preço dos transportes públicos; em Hong Kong tudo resultou de um decreto que permite a extradição de detidos para a  República da China.
Segundo o jornal, esta geografia da insatisfação inclui a França, a Catalunha e a Hungria (Europa), o Chile, a Bolívia, o Equador, a Bolívia e o Haiti (América Latina), a Argélia, o Sudão e a Guiné (África), o Líbano, o Iraque e o Irão (Médio Oriente) e a Caxemira, Hong Kong e a Rússia, mas nessa lista poderiam ser incluídas algumas outras áreas de grande insatisfação, de tensão ou de guerra.
O facto é que há um cenário de desconforto que alastra pelo mundo resultante da aceleração do processo de globalização, fazendo aumentar a indignação e o sentimento de desigualdade entre as pessoas, o que também contribui para a perda das suas referências culturais, morais e económicas. As instituições democráticas dão sinais de fadiga e de impotência, muitas vezes servidas por gente medíocre e atarefada pela pressão do quotidiano. Há uma crescente desconfiança nos dirigentes políticos e há uma angústia por um futuro cada dia mais incerto. Anunciam-se tempos de mudança, mas embora a história nos ensine que depois da revolta vem uma nova ordem, muitas vezes os resultados obtidos são bem diferentes daquilo que antes se imaginava.