quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

O protesto dos agricultores franceses

Provavelmente, a França é o país do mundo onde mais se protesta, muitas vezes de forma violenta, talvez porque o vírus revolucionário de 1789 ainda continua activo...
O protesto dos franceses pode ser mais ou menos justo, mas é sempre de grande intensidade mobilizadora para agricultores, operários metalúrgicos ou estudantes, com a marca do Maio de 1968 a permanecer viva nos espíritos, tanto pela sua origem e natureza, como pela sua repercussão mundial. 
Mais recentemente aconteceu o ”Mouvement des Gilets jaunes” a queixar-se da inflação e do custo de vida e, agora, surgiu o movimento dos agricultores franceses que, aos milhares, estão a marchar para Paris, entupindo a maioria das grandes estradas, ameaçando paralisar Paris e a própria França.
A França é o maior produtor agrícola da Europa e o actual protesto dos agricultores assenta em motivações internas relacionadas com os custos de produção e os efeitos inflacionistas, assim como com a quebra de rendimentos, as baixas pensões, o excesso de regulamentações e de burocracia, o fim dos benefícios fiscais para a compra do gasóleo agrícola e, em grande medida, com a concorrência estrangeira. Os agricultores franceses protestam contra as importações de bens agrícolas vindas da Ucrânia, um tema que também afecta os polacos e os romenos, que estão a deixá-los muito descontentes por considerarem tratar-se de protecionismo injustificado e concorrência desleal. Da mesma forma, as negociações da União Europeia com o Mercosur, a comunidade económica da América do Sul, também preocupam os agricultores franceses.
Embora de forma algo metafórica, o jornal Le Télegramme, que é o principal diário da Bretanha, destacava na sua edição de ontem que “Paris estava cercada”. Ainda não está, mas as movimentações dos agricultores franceses parecem já estar a contagiar outros países da União Europeia.