sábado, 21 de janeiro de 2012

Por que no te callas?

Quando se aproximam as mais negras nuvens sobre a população portuguesa, quando mais de 20 % da população é pobre ou está no limiar da pobreza, quando o desemprego já ultrapassa os 13%, quando a angústia e os problemas sociais começam a alastrar, quando olhamos à nossa volta e vemos o país sem ânimo e sem confiança, eis que nos surge o comentário mais desapropriado e mais inoportuno que se poderia ouvir:
“As minhas reformas não chegam para as despesas”.
Este comentário foi feito em directo na televisão pelo nosso venerando- Porém, o Diário de Notícias revela que as suas reformas excedem os dez mil euros brutos mensais, enquanto o jornal i informa que em 2011 recebeu 140 mil euros de pensões e o Correio da Manhã indica o valor exacto de 141.519 euros em pensões.
Quando todos empobrecem e são obrigados a cortar na despesa, este comentário ofende gravemente os que trabalham, os pensionistas que já trabalharam, os desempregados que querem trabalho e os jovens que emigram porque não têm trabalho. Ofende-nos a todos. É um caso de crueldade.
Já não bastava o nosso primeiro ter sugerido que os jovens emigrassem, ou que um responsável económico tivesse sugerido a exportação do pastel de nata para vencer a crise ou que os gestores auto-convencidos comparassem o seu valor de mercado e o seu escandaloso salário ao dos futebolistas. A noção dos limites está a perder-se.
Agora é o venerando que se junta a essa gente insensata que fala demais e que mostra ignorar o país onde vivemos. Uma enorme tristeza!
Se tivessemos um rei, certamente que lhe diria: “Por que no te callas?”