domingo, 2 de dezembro de 2018

Coletes amarelos puseram Paris a arder

O protesto contra o aumento dos combustíveis começou há algumas semanas em Paris e noutras cidades francesas e, desde logo, os manifestantes se identificaram pelo uso de coletes amarelos. Era, ou parecia ser, um movimento espontâneo, sem a tutela de qualquer sindicato ou partido político. Aconteceu num fim de semana e, no fim de semana seguinte, repetiu-se. Ontem, pela terceira vez, os coletes amarelos vieram para a rua desafiar o governo e exigir a demissão de Emmanuel Macron.
A concentração no Arco do Triunfo deu origem a confrontos violentos com a polícia, houve 270 detenções e 92 feridos, enquanto um edifício e muitos automóveis foram incendiados. Nas ruas que convergem para os Campos Elíseos formaram-se barricadas, incendiaram-se automóveis e foram ateados focos de incêndio em lojas, a lembrar o Maio de 1968 ou o desespero de Hitler em Agosto de 1944 quando perguntou se Paris já estava  a arder.
Embora a dimensão do protesto pareça ser bem pequena e ainda não tenha alterado o quotidiano semanal dos franceses, o que está a inquietar o governo é a enorme popularidade dos coletes amarelos entre a população francesa, porque a sua bandeira já não é apenas a da luta contra o aumento do preço dos combustíveis, mas também a da luta pelo poder de compra dos assalariados, das desigualdades sociais e regionais e de outras reivindicações bem diversas, que vão desde a redução de todos os impostos até a demissão de Macron. O que não se imaginava é que um movimento desta natureza, aparentemente tão genuíno e tão espontâneo, tivesse incendiado Paris. É, portanto, um tema para ser pensado por sociólogos e cientistas políticos.