O protesto contra
o aumento dos combustíveis começou há algumas semanas em Paris e noutras
cidades francesas e, desde logo, os manifestantes se identificaram pelo uso de coletes amarelos. Era, ou parecia ser,
um movimento espontâneo, sem a tutela de qualquer sindicato ou partido
político. Aconteceu num fim de semana e, no fim de semana seguinte, repetiu-se.
Ontem, pela terceira vez, os coletes
amarelos vieram para a rua desafiar o governo e exigir a demissão de Emmanuel
Macron.
A concentração no
Arco do Triunfo deu origem a confrontos violentos com a polícia, houve 270
detenções e 92 feridos, enquanto um edifício e muitos automóveis foram
incendiados. Nas ruas que convergem para os Campos Elíseos formaram-se barricadas, incendiaram-se automóveis
e foram ateados focos de incêndio em lojas, a lembrar o Maio de 1968 ou o desespero de Hitler em Agosto de
1944 quando perguntou se Paris já estava
a arder.
Embora a dimensão
do protesto pareça ser bem pequena e ainda não tenha alterado o quotidiano semanal
dos franceses, o que está a inquietar o governo é a enorme popularidade dos coletes amarelos entre a população
francesa, porque a sua bandeira já não é apenas a da luta contra o aumento do
preço dos combustíveis, mas também a da luta pelo poder de compra dos
assalariados, das desigualdades sociais e regionais e de outras reivindicações
bem diversas, que vão desde a redução de todos os impostos até a demissão de Macron. O que não se
imaginava é que um movimento desta natureza, aparentemente tão genuíno e tão
espontâneo, tivesse incendiado Paris. É, portanto, um tema para ser pensado
por sociólogos e cientistas políticos.