sábado, 17 de março de 2012

São trapalhadas a mais

Nos últimos tempos as trapalhadas governamentais sucedem-se a um ritmo muito preocupante, revelando algumas decisões incompreensíveis, falta de prévio estudo dos assuntos, comportamentos inaceitáveis e, ainda, uma elevada permeabilidade ao atrevimento de boys e mini-boys. Tudo isto, embrulhado numa grande arrogância discursiva. Ora, parece-me que ainda não estamos em tempo do “vale tudo”!
O regime de excepção aplicado ao BdP, à TAP, à CGD e a outros que já se perfilam no horizonte, as excepções que se verificam em relação aos limites salariais das administrações da TAP, ANA, CTT e outras, o caso do devedor que virou credor da AdP, a triste história do duplo recebimento da Lusoponte, a inadmissível cedência aos lobbies da energia sob o comando da EDP, são alguns dos casos preocupantes pois estão desalinhados com o discurso da coerência com que esta gente foi escolhida para nos governar. Porém, as surpresas continuam.
Agora temos um indivíduo que já foi apelidado de “12º ministro” e que foi escolhido para liderar a equipa que ficará com a supervisão das privatizações das participações do Estado em empresas públicas, onde se incluem a TAP, ANA e RTP, mas que, simultaneamente, aceita ser administrador de uma das maiores empresas privadas portuguesas. É preciso muita vaidade e muita ambição para alguém se sujeitar a esta bigamia entre o interesse público e o interesse privado. Se a moda pega, um dia teremos o Pingo Doce a dar emprego a muitos mais consultores e assessores do governo, aqui ou na Holanda, para onde a empresa se vai instalar.
Estão a dar cabo da ética republicana e já são trapalhadas a mais.

Um Estado dentro do Estado

No ano de 2011, quando a EDP ainda não era dominada pelos chineses, os sete membros do seu Conselho de Administração receberam 6,09 milhões de euros, um montante que, segundo revela o Correio da Manhã, dava para pagar 12.569 salários mínimos em Portugal. Só o presidente da empresa ganhou 1,04 milhões de euros em remunerações fixas e variáveis, que correspondem a cerca de 2.859 euros por dia.
É uma obscenidade. Num país que atravessa uma crise tão grave, com a população a empobrecer e com um enorme volume de desemprego, até parece que estamos em tempo de vacas gordas, com a EDP a explorar indecentemente o consumidor português para alimentar remunerações e lucros escandalosos, perante a indiferença dos nossos governantes. Na realidade a EDP é um caso lamentável de assalto ao bolso do consumidor, pois o preço que pagamos pela electricidade é superior ao preço médio da União Europeia, além de que a EDP ainda beneficia da comparticipação do Estado, através das famosas rendas.
Há dias, a EDP decidiu que os chineses irão receber 144 milhões em dividendos relativos ao seu fabuloso lucro de 1125 milhões de euros de 2011 e, agora, por causa da negociação das abusivas rendas, provocou a saída do governo do secretário de Estado da Energia. Afinal, os valentões do governo são fortes para os fracos, mas são fracos para os fortes. Os mexias e os catrogas é que mandam e a EDP é, cada vez mais, um Estado dentro do Estado.