quinta-feira, 24 de março de 2022

O louco entusiasmo turco pelo futebol

Esta noite realiza-se um jogo de futebol entre as selecções de Portugal e da Turquia, em que ambas as equipas procuram arranjar um lugar no grupo de 32 selecções que vão competir no Campeonato Mundial de Futebol da FIFA, que se vai realizar no Qatar entre os dias 21 de Novembro e 18 de Dezembro.
Contrariamente ao que é habitual, a comunicação social portuguesa tem colocado o futebol em plano secundário por andar envolvida com acontecimentos bem mais importantes para a nossa sociedade e, por isso, poucas têm sido as referências ao jogo com os turcos, aos jogadores e ao noticiário futebolístico que serve para mobilizar e excitar a chamada tribo do futebol.
Porém, na consulta que fizemos à imprensa turca e com a ajuda do amigo google, verificamos que as coisas por lá não se passam da mesma maneira. O entusiasmo pelo futebol é enorme e a hipótese da selecção turca estar no Qatar está na ordem do dia, havendo um jornal chamado Foto, que não só anuncia que hoje a Turquia tem um jogo histórico, como destaca que não são necessárias tácticas, porque o que é preciso é vencer. As imagens que ilustram a primeira página são demonstrativas do entusiasmo ou até do fanatismo com que os turcos encaram este jogo.
Acontece que a Turquia ocupa cerca de metade da orla meridional do mar Negro e está apenas a cerca de quatrocentos quilómetros da península da Crimeia e, por isso, é com surpresa que se vê a imprensa a colocar o calor futebolístico turco acima das preocupações sobre o que se está a passar do outro lado do mar Negro. 
Agora, vou ver o jogo porque preciso de me distrair e, naturalmente, espero que a vitória fique por cá, porque também precisamos de alguma coisa que nos anime.

Os 50 anos do 25 de Abril e da liberdade

Ontem completaram-se 17.500 dias de vida do regime democrático português nascido em 25 de Abril de 1974, que acabou com a ditadura imposta ao povo português desde 28 de Maio de 1926, que também durara exactamente 17.500 dias. Hoje, a democracia portuguesa ultrapassa o tempo de duração da ditadura e é caso para dizer que atingiu a sua maioridade. Disse Winston Churchill que “a democracia é a pior forma de governo, com excepção de todas as demais”. É uma bela frase que traduz uma verdade, como sabem aqueles que em Portugal conheceram e podem comparar o que foram o outro regime e o que é este que temos.
Porém, a celebração do 25 de Abril não pode ser apenas a evocação de uma data histórica e libertadora, mas deverá ser um ponto de partida para que possamos construir uma sociedade melhor, mais informada, mais culta, mais sadia, mais justa e mais solidária. Essa é a mensagem do 25 de Abril que havemos de preservar.
Ontem, no Pátio da Galé em Lisboa, começaram as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril com uma cerimónia solene e institucional, que teve a presença das mais altas figuras do Estado e que teve transmissão televisiva em directo em que, para além dos discursos circunstanciais, houve uma vertente cultural com espaço para a poesia e para a música. A presença do histórico Bula, o carro de combate ou chaimite que recolheu Marcelo Caetano no quartel do Carmo na tarde do 25 de Abril, tal como os cravos vermelhos em algumas lapelas, foram os sinais mais simbólicos dessa madrugada libertadora de há quase cinquenta anos. Incluída na cerimónia que foi simples e cheia de dignidade, foi encerrada uma cápsula do tempo, contendo um conjunto de objectos e de materiais, para ser aberta apenas em 2074.
A imprensa não deu qualquer importância àquela cerimónia, mostrando-se mais interessada no anúncio do XXIII Governo Constitucional, na evolução da guerra na Ucrânia e no jogo de futebol desta noite entre Portugal e a Turquia.
A revista Visão foi a excepção que se saúda e destacou-se na evocação dos 17.500 dias de liberdade que nos trouxe o 25 de Abril de 1974. Na capa da sua edição de hoje, aquela revista homenageia Salgueiro Maia, o capitão que a História consagrou como o símbolo maior desse dia libertador.