segunda-feira, 28 de abril de 2014

O porta-aviões da recuperação económica

O irrevogável ministro Portas tem sido um paladino da promoção das nossas exportações, desdobrando-se em viagens por todo o mundo, acompanhado por empresários, muitos amigos e alguns jornalistas. Tem sido um verdadeiro globetrotter lusitano e um frequent flyer ao serviço da nação. Um Fernão Mendes Pinto! Um homem das Arábias! Nas suas frequentes aparições televisivas, primeiro como Ministro dos Negócios Estrangeiros e depois como vice-Primeiro Ministro, exibe sempre um ar triunfalista e de auto-convencimento sobre o sucesso das suas missões e dos méritos daquilo a que ele chama “as nossas empresas”.
Há cerca de dois meses, no final de uma visita ao salão internacional do sector alimentar e bebidas, o irrevogável ministro brindou às exportações e declarou aos jornalistas que "as exportações estão a ser o porta-aviões da recuperação económica no nosso país". Porém, um estudo publicado esta semana no Boletim Económico do Banco de Portugal (Bdp) alerta para as exportações porque têm agora uma maior componente importada, isto é, o peso percentual das importações em cada bem ou serviço exportado tem aumentado e, por exemplo, no caso dos combustíveis a componente importada representa 82% do seu valor de exportação. Além disso, o estudo mostra que mais de 30% das exportações portuguesas estão sobrevalorizadas e que os maiores exportadores portugueses contribuem bem menos do que se pensa para o aumento do produto nacional. Assim, o contributo das exportações para o crescimento do PIB não é um valor absoluto e tem sempre que ser deduzido da sua componente importada. Significa, portanto, que há algumas exportações que são boas e outras que são menos boas. Há que distingui-las, porque se o crescimento da economia for feito apenas pela via das exportações faz aumentar as importações e o desequilíbrio externo, o que parece já estar a acontecer. O irrevogável ministro tem utilizado as exportações com ligeireza e como arma de promoção pessoal, mas a imprensa foi clara ao escrever que o “Banco de Portugal denuncia farsa nas exportações”.