terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A esquecida guerra civil da Síria

A guerra civil na Síria tem estado muito ausente dos noticiários internacionais, apesar desse país continuar a sofrer os efeitos de intensos combates e de já haver muitos milhares de mortos. “A Síria está devastada”, diz hoje o jornal francês Libération.
Tudo nasceu de uma acção de contestação ao regime de Bashar El-Assad, quando a chamada primavera árabe varreu a margem sul do Mediterrâneo. A contestação saiu de Damasco e alastrou por todo o território sírio, transformando-se numa guerra civil que já contabiliza 40 mil vítimas. Surgiram notícias de massacres e de execuções sumárias. Houve milhares de refugiados. Tal como acontece em todas as guerras e recentemente se viu na Bósnia-Herzegovina, também na Síria não há beligerantes bons e beligerantes maus. A Síria tornou-se um campo de luta geopolítica entre dois campos de interesses: a Rússia, a China e o Irão de um lado e, do outro, o Qatar, os Emirados Árabes Unidos, a Arábia Saudita e os Estados Unidos. No terreno, estão directamente envolvidas nos combates as forças do regime de Bashar El-Assad e a oposição armada, agora organizada em torno do Exército de Libertação Sírio, mas também milícias, guardas da revolução e brigadas jihadistas. Em Abril passado, um emissário das Nações Unidas, Kofi Annan, ainda conseguiu um compromisso de cessar fogo mas que não resultou no terreno. Pouco depois, o Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, falou pela primeira vez em "guerra civil" e denunciou a existência de uma guerra por procuração entre as grandes potências. Em Agosto o presidente Obama afirmou explicitamente pela primeira vez que Bashar El-Assad se devia demitir. Apesar de esquecida pelos mass media internacionais, a guerra na Síria está a devastar o país e, ao fim de mais de 20 meses, ainda ninguém conseguiu travar aquele sofrimento do povo sírio.

A pobreza já ameaça a Europa

Diversos jornais europeus destacaram hoje as estatisticas relativas ao risco de pobreza ou de exclusão social na União Europeia (EU27) que ontem foram divulgadas pelo Eurostat e que revelam que, em 2011, havia 119,6 milhões de pessoas em risco de pobreza, isto é, cerca de 24,2% da população, onde se incluiam 16 milhões de alemães, 14 milhões de britânicos, 12 milhões de espanhóis e 2,6 milhões de portugueses.
Estes números reflectem um agravamento da situação social europeia devido à crise, pois a taxa de pobreza em 2010 era de 23,4%, o que significa que houve um aumento de “novos pobres” da ordem dos 5 milhões de pessoas. Segundo o documento divulgado pelo Eurostat, o valor mais elevado da taxa de pobreza registou-se na Bulgária (49,5%), Roménia e Letónia (ambos 40%), Lituânia (33%), Grécia e Hungria (ambos 31%), enquanto os mais baixos se verificaram na República Checa (15%), Holanda e Suécia (ambos 16%), Luxemburgo e Áustria (ambos 17%). Portugal registou uma taxa de 24,4%, em linha com a média europeia de 24,2%. Porém, sendo a pobreza um conceito complexo e multidimensional, existem diversos critérios para o definir, embora seja geralmente medida apenas pela sua componente monetária. Ora é esse o conceito utilizado pelo Eurostat mas que é muito limitado, ao considerar que o limiar da pobreza em cada país se situa 60% abaixo da média do rendimento disponível das famílias. Assim, os riscos de pobreza existentes entre os diversos países europeus só com muito boa vontade podem ser comparados. No entanto, é evidente que a pobreza em Portugal é hoje mais extensa, mais intensa e mais crónica do que antes, que a desigualdade e o fosso de rendimento entre ricos e pobres está a aumentar e que há crescentes tensões a ameaçar a coesão social. Nesse sentido, os indicadores do Eurostat mostram muito pouco da nossa realidade.