A destituição de
Dilma Roussef, a presidente eleita do Brasil, que no passado dia 31 de Agosto foi
decretada por votação do Senado pode ter aberto uma caixa de pandora de
imprevisíveis consequências para o país, até porque ocorre num período de grande
recessão económica. O Brasil ficou mais dividido e, mais do que isso, ficou sob
ameaça de ingovernabilidade e de confrontações nas ruas. Porque tudo o que se passa no Brasil nos interessa, voltamos ao assunto.
O Brasil é um país
muito extenso, muito plural e de uma grande diversidade cultural, mas onde
coexistem dois mundos distintos e com enormes diferenças observáveis nos graus
de desenvolvimento dos diferentes estados, assim como nos desiguais rendimentos
da população e na sua qualidade de vida, o que se torna evidente na brutal
diferença entre a vida do “asfalto” das cidades e a pobreza e a violência das
favelas.
De um lado têm estado o governo, o PT e Dilma Roussef e, do
outro lado, uma parte importante do sistema judicial e a generalidade dos mass media. De um lado estão as classes
de rendimentos mais altos das grandes cidades do sudeste e do sul do país e, do
outro lado, estão os pobres e os remediados do nordeste e do norte. Esta
simplificada apreciação parece poder confirmar-se através da divisão da própria
imprensa brasileira que alinhou com as partes em confronto. Enquanto o Diário
de S. Paulo destacou em primeira página o título “Viva a Democracia” e
em sub-título “Congresso Nacional enterra governo Dilma, PT e Lula”, o jornal Correio
do Brasil do Rio de Janeiro escolheu como título “Chega ao fim a
democracia brasileira”. Deste lado do atlântico, ficamos sem saber se funcionou
a Democracia ou se, pelo contrário, a Democracia foi asfixiada. Sabemos,
contudo, que o voto de 61 senadores destituiu uma presidente eleita por mais de
54 milhões de brasileiros e que a esperança de milhões de cidadãos para
saírem do seu ciclo de probreza sucumbiu perante esta acção democrática ou golpe
parlamentar das oligarquias brasileiras.
O mundo ainda não compreendeu o que se passou em Brasília.