sábado, 16 de fevereiro de 2019

Daesh: as últimas horas do califado

A edição de hoje do jornal francês Libération inclui uma reportagem assinada por Luc Mathieu, o seu enviado especial à Síria, na qual é retratada a situação por que passa o Daesh. Depois de ter ocupado um território que chegou a ser maior que a Grã-Bretanha, ou mais de metade da França, os jihadistas do Daesh ou Estado Islâmico estão agora confinados a um espaço que não mede mais do que um quilómetro quadrado, isto é, são algumas ruas e edifícios de Al-Baghouz, no sueste da Síria.  Os combates têm sido muito violentos e os jihadistas têm resistido, usando kamikazes, minas e drones para deter o avanço dos atacantes, ao mesmo tempo que procuram refúgio em túneis.  Porém, algumas centenas deles, por vezes acompanhados pelas famílias, têm abandonado Al-Baghouz  de noite para se entregar às forças atacantes.
Segundo refere a reportagem,  “a vitória das forças curdo-árabes e aliadas é eminente”, mas apesar da perda da sua base  territorial, que chegou a assustar o mundo, o califado continuará a usar a sua ideologia para instrumentalizar os seus seguidores. Segundo referem outros jornais franceses e ingleses, muitos jihadistas já regressaram aos seus países, mas enquanto alguns se sentirão libertos da vida dura por que passaram, outros regressarão dispostos a utilizar a violência jihadista. Outros, ainda, já estão a exigir do NHS England (National Health Service) os mesmos direitos dos contribuintes ingleses.  
O fim da aventura que foi o califado do Daesh, não resolve o problema da Síria, mas é uma boa ajuda para quem anda a tratar disso.

Uma nova oportunidade para a Síria

É, seguramente, uma das grandes notícias das últimas semanas, embora tivesse sido quase ignorada pelos grandes mass media internacionais e só tivesse sido divulgada por iniciativa do Financial Times, ao publicar uma fotografia de primeira página em que Vladimir Putin, Recep Erdogan e Hassan Rohani se cumprimentam.
Foi em Sochi, na passada 5ª feira, que Putin recebeu aqueles dirigentes que se reuniram numa cimeira trilateral para tratar da questão síria e para intensificar a sua acção no sentido de resolver um conflito que já dura há oito anos. Quando os americanos anunciam a sua próxima retirada da região, quando o Daesh parece estar em vias de extinção e quando já todos reconhecem Bashar el-Assad como o homem capaz de unir e reconstruir a Síria, vemos Vladimir Putin a aparecer como o grande vencedor deste conflito, o que significa que os aliados ocidentais meteram a viola no saco. Foram derrotados “porque apostaram no cavalo errado” e porque sobreavaliaram a importância dos seus mísseis. O Médio Oriente é importantíssimo para a paz no mundo, mas não pode ser tratado por dirigentes ignorantes e obcecados, cujas ideias já foram ultrapassadas pelo tempo e que cometeram graves erros no Iraque e na Líbia.
Agora, temos os turcos e os iranianos que nesta guerra estiveram em diferentes trincheiras, a conversar e, aparentemente, a aceitar as propostas de Putin e a caminhar para um novo status de equilíbrio na região, ao mesmo tempo que procuram soluções para o problema dos curdos.