sábado, 29 de dezembro de 2018

A ascensão da China como marca global

A forma errática como a Administração Trump tem conduzido a sua política externa tem sido aproveitada pela China que, em cada dia, reforça as suas posições como potência económica global. Daí tem nascido uma crescente rivalidade e uma guerra comercial entre as duas potências que prossegue em escalada, com o Donald a aumentar as taxas aduaneiras sobre os produtos chineses e Xi Jimping a retaliar com impostos sobre os produtos americanos. Muitos analistas consideram que a disputa já atingiu níveis perigosos e o Der Spiegel diz mesmo que o conflito com a China já é uma ameaça, enquanto ilustra a sua última edição do ano com uma sugestiva imagem em que a China aparece a tomar o lugar dos Estados Unidos.
O Donald tem-se conduzido com base na ideia de que os Estados Unidos são os donos do mundo e daí as grosseiras polémicas que tem levantado com muitos líderes mundiais e até no seio da sua própria administração. Agora veio declarar que “chegou a hora de fazer frente à China” para que esta permita uma balança comercial mais equilibrada, abra os seus mercados e garanta o respeito pela propriedade intelectual, mas afirma-se com tal arrogância e falsa de senso que a sabedoria chinesa não se assusta.
Noutro plano, o Donald também não vê com bons olhos o protagonismo económico chinês em ascensão e a sua estratégia de investimento estrangeiro. Depois das ondas de investimentos na própria China, na Europa e na América (em que Portugal foi uma das escolhas do dragão chinês) e na África (onde a sua presença em Angola e Moçambique é relevante), a China prepara uma quarta onda de investimentos na América Latina, que faz parte da Nova Rota da Seda chinesa e onde vê um enorme potencial de recursos e de mercado. Além disso, a presença chinesa na América Latina é crescente nos planos científicos e culturais e a generalidade dos países sul-americanos já trocou Taipé por Pequim. A República Popular da China afirma-se cada vez mais como uma marca global e, nem o Donald, nem os americanos, estão a gostar nada disso.