A forma errática
como a Administração Trump tem conduzido a sua política externa tem sido
aproveitada pela China que, em cada dia, reforça as suas posições como potência
económica global. Daí tem nascido uma crescente rivalidade e uma guerra comercial
entre as duas potências que prossegue em escalada, com o Donald a aumentar as taxas
aduaneiras sobre os produtos chineses e Xi Jimping a retaliar com impostos
sobre os produtos americanos. Muitos analistas consideram que a disputa já atingiu
níveis perigosos e o Der Spiegel diz mesmo que o conflito
com a China já é uma ameaça, enquanto ilustra a sua última edição do ano com
uma sugestiva imagem em que a China aparece a tomar o lugar dos Estados Unidos.
O Donald tem-se
conduzido com base na ideia de que os Estados Unidos são os donos do mundo e
daí as grosseiras polémicas que tem levantado com muitos líderes mundiais e até
no seio da sua própria administração. Agora veio declarar que “chegou a hora de fazer
frente à China” para que esta permita uma balança comercial mais equilibrada,
abra os seus mercados e garanta o respeito pela propriedade intelectual, mas
afirma-se com tal arrogância e falsa de senso que a sabedoria chinesa não se
assusta.
Noutro plano, o Donald
também não vê com bons olhos o protagonismo económico chinês em ascensão e a
sua estratégia de investimento estrangeiro. Depois das ondas de investimentos na
própria China, na Europa e na América (em que Portugal foi uma das escolhas do
dragão chinês) e na África (onde a sua presença em Angola e Moçambique é
relevante), a China prepara uma quarta onda de investimentos na América Latina, que faz parte
da Nova Rota da Seda chinesa e onde vê um enorme potencial de recursos e de
mercado. Além disso, a presença chinesa na América Latina é crescente nos planos científicos e
culturais e a generalidade dos países sul-americanos já trocou Taipé por
Pequim. A República Popular da China afirma-se cada vez mais como uma marca global e, nem o Donald, nem os
americanos, estão a gostar nada disso.