quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

PyeongChang resgata o orgulho francês

A França é um grande país e, entre outras coisas, devemos-lhe a revolução de 1789 de que emergiu o fim do feudalismo e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, sintetizada nos princípios da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, mas também muitos avanços na Ciência e na Cultura.
Porém, depois de Waterloo e da queda de Napoleão, a França tem acumulado grandes humilhações nos conflitos militares em que se tem envolvido, por exemplo, com os ingleses, os alemães, os vietnamitas e os argelinos. Apesar disso, o desenvolvimento económico, científico e cultural da França continua a ser um marco civilizacional, enquanto a cidade de Paris permanece como um farol que inspira meio mundo.
Hoje, com o fenómeno desportivo a tornar-se uma medida do prestígio das nações, a França também procura a sua afirmação internacional através do desporto, exibindo muitas vezes um chauvinismo desconcertante, como se A Marselhesa e o seu grito “aux armes citoyens” pudesse por si só dar-lhes triunfos desportivos. Por isso, apanham muitos baldes de água fria, como aconteceu em 2016 com a profunda desolação que sofreram quando foram derrotados pela equipa portuguesa na final do Campeonato da Europa de Futebol ou com a enorme mágoa que sentem porque, desde a vitória de Bernard Hinault em 1985, não vêem um seu compatriota vencer o Tour de France.
Nestes dias, porém, os franceses encontraram em PyeongChang um novo ídolo para resgatar o seu orgulho nacional. Martin Fourcade, que foi porta-bandeira da França no desfile inaugural em PyeongChang é, até agora, o mais medalhado atleta nos Jogos Olímpicos de 2018, pois ganhou três medalhas de ouro em provas do biatlo. Como ganhara duas medalhas de ouro em 2014 nos Jogos de Sochi, Fourcade tornou-se o mais medalhado atleta francês de todos os tempos, quer nos jogos de inverno, quer nos jogos de Verão. Toda a imprensa francesa louvou o novo ídolo e La Dépêche du Midi de Toulouse, a região de onde Fourcade é natural, é apenas um exemplo da euforia francesa. Curiosamente, das 14 medalhas já ganhas pelos franceses em PyeongChang, houve uma medalha de prata que foi ganha por uma tal Júlia Pereira de Sousa...

Afinal a guerra na Síria ainda não acabou

Depois de várias semanas de acalmia no território sírio, em que se pensava que a guerra se aproximava do seu fim em resultado da aparente derrota das forças do Daesh e do também aparente controlo da maior parte do território pelo regime de Bashar el-Assad, a guerra parece ter recomeçado, agora sem o Daesh, mas com sírios, iranianos, turcos, curdos, russos e outros mais, incluindo alguns americanos.
No norte do país, na região fronteiriça sírio-turca de Afrin, as forças governamentais de Bashar el-Assad foram em auxílio das forças curdas que estavam a ser atacadas pelos turcos desde há vários dias, com o pretexto de que não querem curdos nas suas fronteiras. Há notícias que indicam que as forças sírias recuaram ou que terá havido negociações, mas há outras que afirmam que o combate entre turcos e sírios, ou entre Bashar el-Assad e Recep Erdoğan, ainda não começou mas está eminente, o que a acontecer significa um preocupante agravamento da guerra civil síria que, recorde-se, já dura há sete anos. Porém, há muita propaganda ou contra-informação sobre Afrin.
No sul  da Síria, as notícias também são muito preocupantes. Nos arredores de Damasco, o enclave de Ghouta onde vivem cerca de 400 mil pessoas e que continua sob o controlo das forças de oposição ao regime sírio, tem sido alvo de bloqueio por parte do regime de Bashar el-Assad que impede a chegada de combustíveis, alimentos e medicamentos. Além disso, nos últimos dias começaram intensos bombardeamentos para acabar com "os rebeldes de Ghouta", tal como aconteceu em Allepo, que têm provocado centenas de mortes e que já são referidos como “o massacre do século XXI”. Porém, tal como em Afrin, há muita propaganda ou contra-informação sobre Ghouta.
O que não há dúvida é que estamos perante mais uma catástrofe humanitária e há quem diga que já não é uma guerra, mas um massacre. As Nações Unidas apelaram a um cessar-fogo imediato em Ghouta e em Afrin, mas parece que ninguém ouviu esse apelo, nem mesmo a imprensa internacional, pois são muito poucos os que tratam este assunto. The Guardian é uma das poucas excepções.