sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

O triste naufrágio do futebol português

Nos últimos anos o futebol invadiu de forma desproporcionada o espaço mediático e, portanto, também o nosso espaço público e a nossa vida. O futebol parece ter sido colocado no centro da vida dos portugueses e há muita gente, aparentemente respeitável, que embarca nesta loucura da futebolite. O futebol transformou-se numa arena onde se digladiam todas as perversidades e frustrações da nossa sociedade, como podemos ver todos os dias nas televisões, enxameadas por dezenas de comentadores, quase sempre numa postura de radicalismo clubista, que até podem criar a ideia de que o futebol é a coisa mais importante da vida. Já não há paciência para ouvir as constantes conferências de imprensa dos treinadores, as judiciosas opiniões dos árbitros sobre os casos do jogo ou a grosseira incontinência verbal de certos dirigentes.  A continuar assim, um dia o futebol acaba e ninguém tem conseguido travar este degradante movimento que constitui um verdadeiro retrocesso civilizacional.
Porém, ainda há quem pense que essa é a face mais obscura do fenómeno futebolístico, porque do outro lado há a festa, a alegria, o espectáculo desportivo, a incerteza quanto ao resultado, os grandes golos e as grandes defesas.
Porém, também essa face nos desilude cada vez mais. Nas 16 equipas em prova na Liga dos Campeões não há qualquer equipa portuguesa, mas na chamada segunda linha das competições europeias, que é a Liga Europa, havia quatro equipas portuguesas. Até ontem, porque as equipas do Braga, Sporting, Porto e Benfica foram eliminadas. Foi um naufrágio completo. O jornal A Bola diz hoje que o nosso futebol é um Portugal dos pequenitos. De facto, com tanto tempo e tanta gritaria dedicados ao futebol, não era previsível que acontecesse este naufrágio ou, então, essa gente do futebol anda-nos a vender gato por lebre e não nos diz a verdade, ou seja, que o nosso futebol que era a alegria do povo, está agora irremediavelmente de rastos.