quinta-feira, 31 de julho de 2025

Desigualdade social e pobreza em Angola

Por razões históricas, culturais e emocionais, Angola é um país irmão de Portugal. O traço mais evidente desta relação fraterna é a língua portuguesa, que faz com que o que se passa em Portugal interesse aos angolanos, da mesma forma que o que se passa em Angola interessa aos portugueses.
É por isso que a notícia revelada pelo jornal O País na sua edição de hoje, na qual informa que nas províncias de Luanda, Huíla, Huambo e Ícolo e Bengo houve “arruaças e vandalismo com saldo de 22 mortes, 197 feridos e 1.214 detidos”, desperta a atenção dos portugueses e, naturalmente, gera muita preocupação.
Desde o início de Julho que se vinham realizando acções de protesto contra o aumento dos preços dos combustíveis e dos transportes, uma medida de política económica com que o governo de Angola pretende reduzir os subsídios a esses bens e serviços, com vista à estabilização das suas finanças públicas.
Na sequência de uma paralisação convocada pela Associação Nacional dos Taxistas de Angola (ANATA) para a passada segunda-feira como protesto contra esses aumentos, que teve o apoio das populações, surgiram desacatos, tumultos e pilhagens, por vezes muito violentos, em várias províncias de Angola. A Polícia Nacional de Angola interveio para conter esses desacatos e foi acusada de recorrer ao uso excessivo e desproporcionado da força, inclusivamente por balear alguns manifestantes.
O que se espera é que a paz social regresse rapidamente às cidades angolanas e que as autoridades adoptem políticas que contribuam para a redução da pobreza e para a diminuição das profundas desigualdades sociais angolanas, que são sempre focos de muita tensão e até podem afectar a coesão nacional.

A continuada submissão da Europa

Apesar de ainda ser uma espécie de “farol da civilização”, há uma lenta agonia da Europa na sua relação com a América e com a Ásia, como prova a irrelevância que vai tendo em todas as matérias internacionais de natureza política, económica e militar.
Depois de quatro meses de incerteza tarifária, aconteceu no passado domingo na Escócia um acordo entre Donald Trump e Ursula von der Leyen, pelo qual os Estados Unidos vão aplicar uma taxa alfandegária de 15% à generalidade das exportações da União Europeia, que ainda fica obrigada a investir 600 mil milhões de dólares nos Estados Unidos, sobretudo em energia e armamento. Embora a taxa de 15% seja mais leve do que os 25% que já vigoravam para a indústria automóvel, representa um forte aumento em relação à taxa de 2,5% que estava em vigor.
Este acordo comercial entre os Estados Unidos e a União Europeia, começou por ser aplaudido pelos dois lados do Atlântico, mas rapidamente surgiram dúvidas sobre se foi uma capitulação, como escreveu o jornal La Dépêche du Midi, ou se foi simplesmente um caso de pragmatismo. Para alguns pragmáticos, a União Europeia estava ameaçada com taxas de 30% e ao conseguir taxas de 15% conseguiu um bom acordo, embora o Reino Unido tivesse conseguido taxas de 10%. Porém, muitos líderes políticos e empresariais europeus já criticaram o acordo em termos muito duros e consideraram-no escandaloso, tendo o primeiro-ministro francês dito que foi “um dia sombrio” e que a União Europeia, que é “uma aliança de povos livres se resignou à submissão”. Mais curioso e mais realista foi o comentário do empresário francês Arnaud Bertrand que disse que o acordo é “uma transferência unilateral de riqueza” e que "se parece bastante com o tipo de tratado desigual que as potências coloniais costumavam impor no século XIX, só que, desta vez, a Europa é a vítima". 
Donald Trump impôs a sua vontade e não fez qualquer cedência, enquanto Ursula von der Leyen lhe deu uma boa ajuda para ele levar por diante o Make America Great Again. Muita asneira tem feito esta senhora, o que nos faz pensar sempre em Jacques Dellors, um "Senhor Europa" como não houve outro.