quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

O nosso país está adiado há muito tempo

O Tribunal Constitucional decidiu, por unanimidade, declarar a nulidade das eleições legislativas de 30 de Janeiro em mais de uma centena de assembleias de voto do círculo da Europa e a repetição do acto eleitoral. Esta decisão considerou nulos 157.205 votos, correspondentes a cerca de 80% dos votos por correspondência que não chegaram acompanhados pela fotocópia do documento de identificação do eleitor, conforme determina a lei, mas vieram a ser misturados com os votos válidos em cerca de 150 secções de voto. A Comissão Nacional de Eleições já deliberou que a nova votação presencial se realizará nos dias 12 e 13 de Março e que os votos por via postal serão validados se forem recebidos até ao dia 23 de Março. Espera-se que este imbróglio não se volte a repetir e que todos os agentes envolvidos neste processo sejam mais atentos e responsáveis, até pelos avultados custos que envolve, não só políticos, mas também financeiros.
A posse do novo governo estava agendada para o dia 23 de Fevereiro, mas vai agora ser adiada em pelo menos um mês, o que levou o jornal Público a escrever um título desproporcionado, quanto ao conteúdo e quanto à dimensão – o país adiado. Ora o país está adiado há muito tempo e não é por causa da anulação das eleições do círculo da Europa e de só mais tarde termos um novo governo, mas por muitas outras coisas que vão acontecendo no território e no tecido social. O que adia o nosso país é a ausência de causas e a cegueira partidária dos nossos agentes políticos, o egoísmo das elites, o escandaloso compadrio nacional, mas também a falta de ambição, o conformismo e a vaidade, entre outras coisas. Há uma grande confusão, que precisa de ser clarificada, na Justiça, no Serviço Nacional de Saúde ou na Defesa Nacional, mas não só. Porém, a comunicação social que podia ser mobilizadora em tantas causas de progresso, opta por perseguir o sensacionalismo e as audiências, vai criando mitos e massacra-nos com a “espuma dos dias”, como são o caso Rendeiro, ou os incidentes do Porto-Sporting, ou a “invasão” da Ucrânia.