Na guerra que tem
arrasado parte da Ucrânia e provocado centenas de milhares de mortos, os
líderes europeus não quiseram e continuam a não querer, ser os mediadores de um
conflito entre eslavos, com raízes históricas muito antigas. Ignorando o que
tinha sido combinado com Mikhail Gorbachev quando da reunificação alemã, os
falcões da NATO avançaram para oriente e incorporaram mais de uma dúzia de
países, incluindo os estados bálticos, a Bulgária e a Roménia, a Albânia e o
Montenegro. Faltava a Ucrânia. Os russos sentiram-se ameaçados, tal como
Kennedy se sentiu ameaçado com a crise dos mísseis de Cuba em 1962. A fricção russo-ucraniana
intensificou-se em 2014 com a anexação da Crimeia e com a agitação no Donbass
(Donetsk e Luhansk). Depois, tudo se complicou e logo se tratou de vender a
narrativa de haver santos e diabos, quando afinal os ucranianos e os
russos são primos uns dos outros. Neste grande imbróglio, em Fevereiro de 2022 houve
realmente um agressor e um agredido, mas antes houve demasiadas provocações
feitas por gente que nunca procurou a paz nem a mediação. Hoje as narrativas da
ameaça russa fazem lembrar as aparições de Fátima de 1917 e, sem que as
populações europeias tenham sido ouvidas, já está decidido o rearmamento que
vai abalar os alicerces, os orçamentos e o modo de vida da União Europeia.
Por tudo isto e,
independentemente das motivações pessoais de Donald Trump e dos interesses
estratégicos americanos, há que saudar os esforços que estão a ser feitos para
negociar um cessar-fogo e a paz.
Hoje, o jornal
romano Secolo d’Italia diz que os telefonemas de Donald Trump para
Putin e para Zelensky são il primo passo
e eu concordo, embora lamente profundamente que os europeus não tenham sido
capazes de fazer telefonemas e se limitassem a acusar Putin, mas sem que usem a
mesma condenação contra Benjamin Netanyahu pelo genocídio que está a fazer em
Gaza.