quarta-feira, 19 de março de 2025

“Il primo passo” para a paz que se saúda

Na guerra que tem arrasado parte da Ucrânia e provocado centenas de milhares de mortos, os líderes europeus não quiseram e continuam a não querer, ser os mediadores de um conflito entre eslavos, com raízes históricas muito antigas. Ignorando o que tinha sido combinado com Mikhail Gorbachev quando da reunificação alemã, os falcões da NATO avançaram para oriente e incorporaram mais de uma dúzia de países, incluindo os estados bálticos, a Bulgária e a Roménia, a Albânia e o Montenegro. Faltava a Ucrânia. Os russos sentiram-se ameaçados, tal como Kennedy se sentiu ameaçado com a crise dos mísseis de Cuba em 1962. A fricção russo-ucraniana intensificou-se em 2014 com a anexação da Crimeia e com a agitação no Donbass (Donetsk e Luhansk). Depois, tudo se complicou e logo se tratou de vender a narrativa de haver santos e diabos, quando afinal os ucranianos e os russos são primos uns dos outros. Neste grande imbróglio, em Fevereiro de 2022 houve realmente um agressor e um agredido, mas antes houve demasiadas provocações feitas por gente que nunca procurou a paz nem a mediação. Hoje as narrativas da ameaça russa fazem lembrar as aparições de Fátima de 1917 e, sem que as populações europeias tenham sido ouvidas, já está decidido o rearmamento que vai abalar os alicerces, os orçamentos e o modo de vida da União Europeia.
Por tudo isto e, independentemente das motivações pessoais de Donald Trump e dos interesses estratégicos americanos, há que saudar os esforços que estão a ser feitos para negociar um cessar-fogo e a paz.
Hoje, o jornal romano Secolo d’Italia diz que os telefonemas de Donald Trump para Putin e para Zelensky são il primo passo e eu concordo, embora lamente profundamente que os europeus não tenham sido capazes de fazer telefonemas e se limitassem a acusar Putin, mas sem que usem a mesma condenação contra Benjamin Netanyahu pelo genocídio que está a fazer em Gaza.