No dia 24 de
Fevereiro as tropas russas iniciaram a invasão da Ucrânia e, nesse dia,
escrevemos aqui que era “Um dia muito negro na História da Europa”. No dia 27
registamos a nossa surpresa escrevendo sobre “A resistência e a coragem de
Zelensky” e, no dia 28, porque houvera um primeiro encontro entre negociadores
russos e ucranianos e se estudava o cessar-fogo, escrevemos a respeito de “Um
breve encontro, um passo necessário”.
Desde então
passaram mais de dois meses e tudo se tornou bem diferente do que parecia. Em
vez de terminar, a guerra intensificou-se e muitas cidades ucranianas foram
destruídas, morreu muita gente e há milhões de refugiados. Não há sinais de
cessar-fogo nem de negociações para a paz, embora a aposta de António Guterres
na diplomacia silenciosa tenha dado alguns resultados positivos. Há notícias de
combates e da entrada maciça de material de guerra nos teatros de operações. Os
países da NATO anunciam sanções à Rússia e muitos milhares de milhões de euros
de apoio militar e de ajuda humanitária à Ucrânia. A indústria do armamento e
as petrolíferas rejubilam. Cada vez parece ser mais claro que a Ucrânia é um
pretexto para uma guerra por procuração (proxy
war), isto é, uma guerra em que dois ou mais países se utilizam de
terceiros (os proxies), como
intermediários ou substitutos, de forma a não lutarem directamente entre si.
Agora,
percebem-se melhor as declarações de Mevlut Çavusoglu, o ministro dos Negócios
Estrangeiros turco, quando afirmou que “há alguns países no seio da NATO que
querem que a guerra na Ucrânia continue. Eles pensam que, se a guerra
continuar, a Rússia ficará enfraquecida. A situação na Ucrânia pouco importa
para eles”. Quatro dias depois em Kiev, foi Lloyd Austin, o secretário da Defesa americano, a confirmar o que Çavusoglu tinha dito. Portanto, há quem queira a guerra.
Porém, se
tivessem sido ponderadas as palavras de Henry Kissinger, no texto publicado no The Washington Post do dia 6 de Março de
2014 em que, entre outras coisas, defendia que a Ucrânia não devia aderir à
NATO, posição que também tinham Angela Merkel e Emmanuel Macron, talvez não
tivesse começado uma tão dolorosa guerra.
Na sua última
edição, o Courrier International mostra Biden e Putin face a face,
referindo o braço de ferro que estão a fazer e perguntando se os Estados Unidos
e a Rússia não estarão à beira de um confronto directo.