Os primeiros cem dias de qualquer Governo costumam ser um barómetro comparativo entre o programa eleitoral e o programa de governo ou entre o que foi prometido e o que está a ser realizado por quem venceu as eleições.
Mesmo quando em campanha eleitoral se afirma que vai haver uma mudança ou um novo rumo, verifica-se depois que há muitos elementos que são comuns entre quem entrou e quem saiu do governo, porque a acção governativa tem sempre mais de continuidade do que de ruptura.
No entanto, para ganhar as últimas eleições, foram ditas muitas mentiras e foram lançadas muitas calúnias. Atacou-se o despesismo do Estado e desvalorizou-se a crise financeira internacional. Foi prometido que não haveria aumento de impostos e que a redução da despesa pública seria feita a partir do corte dos consumos intermédios e das gorduras do Estado.
Até agora, as coisas não têm sido assim: os impostos aumentaram e o corte da despesa, reconhece-se agora, não produz efeitos imediatos. O contrato eleitoral não está a ser cumprido. Não pode valer tudo para ganhar eleições.
Porém, a situação financeira por que passa o nosso país é muito grave. O memorando assinado com as entidades internacionais é exigente e baliza a acção governativa. Não é preciso muita imaginação. É cumprir o que está no memorando. E não é nada pouco! Por isso, após cem dias de governo, já haveria lugar para uma grande desilusão e para algum protesto, mas na emergência por que passamos, há que adiar uma avaliação por mais cem dias. É mais um sacríficio por que tenho que passar.