sexta-feira, 29 de setembro de 2017

A independência da Catalunha fica adiada

Desde que no passado mês de Agosto o Parlamento da Catalunha aprovou uma proposta de lei intitulada Ley de Transitoriedad Jurídica y Fundacional de la República, que o movimento independentista catalão se mobilizou para o referendo marcado para o próximo dia 1 de Outubro. De acordo com esse texto, se o referendo vencer, nem que seja por um voto de diferença, o presidente do governo Carles Puigdemont fará uma declaração de independência unilateral, mas se isso vier a acontecer, não será mais que uma declaração simbólica, sem valor jurídico e sem qualquer credibilidade internacional
O que se tem passado na Catalunha no último mês tem sido uma escalada de tensão e de erros das duas partes em confronto. De um lado estão as autoridades independentistas catalãs que mobilizaram as suas forças para a rua em apoio do referendo e, do outro, estão as autoridades centrais de Madrid que exigiram a sua anulação, mas porque não foram obedecidas e com base na decisão do Tribunal Constitucional de Espanha, reagiram e tomaram medidas drásticas que já inviabilizaram a sua realização. A Catalunha está, portanto, politicamente dividida entre o movimento independentista e a sua fidelidade à Espanha das Autonomias mas, por agora, o independentismo sai derrotado pela forma populista e desastrada como Carles Puigdemont e a sua gente conduziram a luta. A opção independentista pode ter muito apoio nas ruas e nos sectores mais dinâmicos da sociedade catalã, mas não têm qualquer apoio no resto da Espanha que não quer ser desmembrada, nem na comunidade internacional que não quer ver catalunhas nos seus próprios países. É por isso que nenhum país europeu apoia a Catalunha porque, em maior ou menor grau, todos têm as suas próprias catalunhas na Escócia, na Flandres, na Córsega, na Sardenha e em tantos outras regiões americanas, russas ou chinesas.
Porém, a História ensina-nos que as aspirações independentistas catalãs não são diferentes dos sentimentos portugueses que triunfaram em 1640, embora a mesma História tenha traçado destinos diferentes às duas nações. Significa que as autoridades catalãs têm a legitimidade democrática para lutar pela independência da Catalunha, mas também têm a obrigação de saber que nenhum poder central instalado em Madrid lhes facilitará a vida, pelo que essa sua aspiração exigirá tempo, paciência e muitas negociações, mas também a compreensão da comunidade internacional. O que está acontecer com o Brexit mostra que uma eventual separação exigiria negociações muito demoradas e complexas.
Os dirigentes do independentismo catalão deslumbraram-se e foram longe de mais. Não estudaram a conjuntura internacional e não tiveram aliados. Os catalães já começaram a rejeitar estes saltos no abismo conduzidos com motivações emocionais e por movimentos radicais, que podem ter efeitos devastadores para a economia e para a sociedade catalã. A aspiração independentista catalã vai provavelmente sair reforçada deste processo, mas vai exigir que no futuro seja conduzida por gente mais capaz que os Puigdemont e os Oriol Junqueras.
A independência da Catalunha vai ficar adiada, mas ninguém sabe por quanto tempo.