Desde que no
passado mês de Agosto o Parlamento da Catalunha aprovou uma proposta de lei intitulada Ley de Transitoriedad Jurídica y Fundacional de la República, que o movimento
independentista catalão se mobilizou para o referendo marcado para o próximo
dia 1 de Outubro. De acordo com esse texto, se o referendo vencer, nem que seja
por um voto de diferença, o presidente do governo Carles Puigdemont fará uma
declaração de independência unilateral, mas se isso vier a acontecer, não será
mais que uma declaração simbólica, sem valor jurídico e sem qualquer credibilidade internacional
O que se tem passado na Catalunha no
último mês tem sido uma escalada de tensão e de erros das duas partes em
confronto. De um lado estão as autoridades independentistas catalãs que mobilizaram
as suas forças para a rua em apoio do referendo e, do outro, estão as
autoridades centrais de Madrid que exigiram a sua anulação, mas porque não
foram obedecidas e com base na decisão do Tribunal Constitucional de Espanha, reagiram
e tomaram medidas drásticas que já inviabilizaram a sua realização. A Catalunha
está, portanto, politicamente dividida entre o movimento independentista e a sua
fidelidade à Espanha das Autonomias mas, por agora, o independentismo sai derrotado
pela forma populista e desastrada como Carles Puigdemont e a sua gente
conduziram a luta. A opção independentista pode ter muito apoio nas ruas e nos
sectores mais dinâmicos da sociedade catalã, mas não têm qualquer apoio no
resto da Espanha que não quer ser desmembrada, nem na comunidade internacional
que não quer ver catalunhas nos seus próprios países. É por isso que nenhum
país europeu apoia a Catalunha porque, em maior ou menor grau, todos têm as
suas próprias catalunhas na Escócia, na Flandres, na Córsega, na Sardenha e em
tantos outras regiões americanas, russas ou chinesas.
Porém, a História ensina-nos que as
aspirações independentistas catalãs não são diferentes dos sentimentos
portugueses que triunfaram em 1640, embora a mesma História tenha traçado
destinos diferentes às duas nações. Significa que as autoridades catalãs têm a
legitimidade democrática para lutar pela independência da Catalunha, mas também
têm a obrigação de saber que nenhum poder central instalado em Madrid lhes
facilitará a vida, pelo que essa sua aspiração exigirá tempo, paciência e
muitas negociações, mas também a compreensão da comunidade internacional. O que
está acontecer com o Brexit mostra que uma eventual separação exigiria
negociações muito demoradas e complexas.
Os dirigentes do independentismo catalão
deslumbraram-se e foram longe de mais. Não estudaram a conjuntura internacional
e não tiveram aliados. Os catalães já começaram a rejeitar estes saltos no
abismo conduzidos com motivações emocionais e por movimentos radicais, que
podem ter efeitos devastadores para a economia e para a sociedade catalã. A
aspiração independentista catalã vai provavelmente sair reforçada deste
processo, mas vai exigir que no futuro seja conduzida por gente mais capaz que
os Puigdemont e os Oriol Junqueras.
A independência
da Catalunha vai ficar adiada, mas ninguém sabe por quanto tempo.
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