quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A desunião europeia

O projecto europeu saído do espírito de Jean Monnet, Robert Schuman e Paul-Henri Spaak, visa uma união cada vez mais estreita entre os povos europeus, mediante uma acção comum que assegure o progresso económico e social dos seus países e elimine as barreiras que os dividiram durante muitos anos.
Além disso, o projecto visa o desenvolvimento harmonioso do espaço europeu pela redução das desigualdades entre as diversas regiões e do atraso das menos favorecidas, bem como a melhoria constante das condições de vida e de trabalho dos seus povos. Surgiu um mercado comum, instituiu-se uma união aduaneira e desenvolveram-se políticas comuns. A prosperidade consolidou-se. A coesão social tornou-se uma realidade. A solidariedade reforçou-se. O clube alargou-se e chegou aos 27 membros. Tanto os grandes como os pequenos tinham voz no grande espaço democrático. Era a União Europeia e o sonho.
Até que veio a crise em múltiplas dimensões - demográfica, social, económica, orçamental e financeira. A Europa estava adormecida e não soube reagir em tempo útil. A Alemanha aproveitou a indecisão europeia e tomou conta dela, impondo a sua vontade e a austeridade, humilhando e fazendo dos mais fracos seus reféns. Há quem diga que a arrogância de 1939 está de volta. Por culpa própria, a Grécia tornou-se o patinho feio. A ameaça de bancarrota e a saída forçada do euro levaram os principais partidos gregos a aprovar um novo pacote de austeridade, com cortes no salário mínimo e nas pensões. Seguiu-se uma noite de violência e de vandalismo em Atenas. Tudo está mais confuso, mas a identidade histórica e o orgulho grego estão a reagir contra a humilhação que vem da Alemanha e a falta de solidariedade europeia.
Aqui, diz-se tudo e o seu contrário. Há quem insista em afirmar que Portugal é diferente da Grécia, mas as vozes solidárias para com a Grécia estão a aumentar. Estamos em completa desunião europeia e eu cada vez tenho mais dúvidas a respeito de tudo isto.

Mouraria - Berço do Fado

A Mouraria é um dos mais tradicionais e menos conhecidos bairros lisboetas, que nasceu em meados do século XI quando D. Afonso Henriques conquistou a cidade e decidiu concentrar a população muçulmana naquela encosta. Parece que foi aí que o fado nasceu e foi nesse bairro, exactamente na Rua do Capelão, que nasceu Maria Severa, considerada a primeira fadista portuguesa e a expressão máxima do fado na sua época.
Depois da abertura ao público do Centro Comercial da Mouraria, o bairro da Mouraria tornou-se num local bastante mais movimentado e, actualmente, é considerado um dos bairros mais populares e, provavelmente, o mais multicultural bairro da capital.
Nesse bairro, na esquina da Rua da Mouraria com a Rua do Capelão, a poucos metros da casa onde viveu a Severa, foi colocado um expressivo monumento dedicado à Mouraria – Berço do Fado.
O monumento é constituído por um bloco de mármore com cerca de 1 metro e meio de altura que tem esculpida uma guitarra portuguesa e foi inaugurado no dia 13 de Junho de 2006 pelo Presidente da Câmara Municipal de Lisboa.
Uma legenda muito saliente informa: “Inaugurado pelo Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Professor Doutor António Carmona Rodrigues”.
A identidade do inaugurador está tão destacada e é tão desproporcionada que até parece que o monumento é dedicado ao Exmo. Senhor Professor Doutor e não ao próprio bairro da Mouraria. Que ideia tão ridícula que o inaugurador deixar passar!