Confesso que
andei distraido e que foi preciso que alguém do outro lado do Atlântico me
chamasse a atenção para o sucesso que está a ter o discurso de uma mulher inconseguida,
isto é, uma mulher que afirma que “o meu medo é o do inconseguimento”. Fui ao YouTube
e lá estava a esdrúxula entrevista a declarar “o inconseguimento
frustracional do soft power sagrado”
e a sua afirmação de ter medo “do egoísmo que nos deixa de certo modo castrados
em termos pessoais e nos deixa castrados em termos colectivos”.
Pois a ideia do inconseguimento é da autoria de uma
senhora licenciada em Direito que, com esse diploma e o cartão do seu partido,
tem levado uma vida de conforto à nossa custa e que vai muito para além dos
seus eventuais méritos. Desde muito cedo militou nos comícios transmontanos de certeza de bandeirinha na mão. Muito jovem
chegou a deputada e depois foi indicada pelo seu partido para juíza do Tribunal
Constitucional, onde esteve até 1998. Aí se reformou com 42 anos de idade! Mas
não parou e andou pelo Conselho da Europa e pelo Parlamento Europeu. Chegou a
Presidente da Assembleia da República mas, pasme-se, não tem salário pois optou
por continuar com a choruda reforma que vence desde há quase vinte anos. Que
exemplo para quem trabalha ou para quem trabalhou! Pois é esta mulher que, de
vez em quando, se destaca pelos ridículos disparates que diz e que são cada vez
mais frequentes, a provocar a gargalhada geral e a envergonhar-nos enquanto segunda figura do Estado. Aqui há tempos inventariou os
custos da eventual transladação de Eusébio para o Panteão Nacional e, agora,
tomou posição sobre as comemorações dos 40 anos do 25 de Abril, ao lançar a
ideia de abrir a porta ao mecenato para as custear. A senhora tem medo de inconseguimentos,
mas o verdadeiro inconseguimento é
ter esta senhora no lugar onde está, a falar desta maneira e a mostrar-se como se
fosse assessora da troika ou das
finanças. Que ridícula. Só nos faltava esta!