segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A bizarra ideia da “Fatura da Sorte”

Toda a gente sabe da existência da economia paralela, da fuga ao fisco e da concorrência desleal, mas ao consultarmos os estudos divulgados por entidades internacionais credíveis, verificamos que a dimensão desses males no nosso país não é muito diferente da que se verifica na Suécia, na Noruega ou na Alemanha, além de ser menor do que aquilo que se verifica em alguns países da União Europeia. Portanto, coloquemo-nos no nosso devido lugar e sem complexos, embora deva ser estimulado o cumprimento  dos nossos deveres cívicos para minorar esses males da sociedade. Nesse sentido, o governo decidiu-se por uma verdadeira cruzada no combate à economia paralela e teve a bizarra ideia de criar a Fatura da Sorte.
A Fatura da Sorte é um concurso que premiará os consumidores que exijam as facturas correspondentes aos seus consumos de bens e serviços, quando tomam cafés, engraxam sapatos, compram um jornal ou usam alguns WC. Tal como acontece com as promoções do tipo “Poupa mais”, “quantas mais facturas forem emitidas a cada contribuinte” mais cupões vão a concurso, segundo disse o porta-voz da iniciativa. O concurso terá direito a transmissão televisiva, que provavelmente vai ser tão animada como “O preço certo” e, semanalmente, vai sortear automóveis que “em princípio” serão viaturas novas “de gama elevada”. Tudo conta e todos podem ganhar um automóvel, pelo que é de esperar algum sucesso desta bizarra iniciativa. É a estratégia da cenoura!
A dignidade e a autoridade do Estado, assim como a responsabilidade fiscal dos contribuintes ficam, desta maneira, colocadas ao nível dos concursos televisivos e das promoções das grandes superfícies. Que mais nos irá acontecer?

O novo-riquismo de São Bento

O governo faz tudo para ir ao bolso dos pensionistas e dos funcionários públicos com o argumento que é preciso cortar na despesa pública e diminuir o défice público e, depois, vai dando exemplos de um brutal despesismo e de ausência de economicidade nas suas decisões, o que para além de ser insensato, é passível de ser classificado como ilegalidade. É mais uma das poucas vergonhas a que vamos assistindo, porque o dinheiro que o gabinete do primeiro-ministro gasta é meu e de quem paga os impostos, que ele, o seu governo e os seus deputados nos impõem.
O caso é divulgado hoje pelo jornal i, que informa que o gabinete do primeiro-ministro contratou uma empresa em regime de outsourcing para atender telefones em São Bento por 25,1 mil euros, apesar de ter no seu gabinete de São Bento nada menos do que dez secretárias pessoais, nove auxiliares e doze pessoas a prestar apoio técnico-administrativo. O contrato foi assinado com a empresa We Promote – Outsourcing e Serviços, Limitada e já é o terceiro que é celebrado por adjudicação directa entre esta empresa e o gabinete do primeiro-ministro, porque este tem "ausência de recursos próprios". No entanto, com tão elevado número de secretárias/assistentes será mesmo necessária esta despesa? E porque não foram recrutados alguns funcionários no grupo da mobilidade especial, evitando-se assim o recurso a uma empresa externa? É o novo-riquismo de São Bento!
Quando, no intervalo da consulta da sua conta bancária que cresce, cresce, cresce, o amigo Catroga souber disto, não só vai discordar deste contrato, como vai poder dizer que são estas as gorduras do Estado a que se referia quando em 2011 afirmava que seria tudo fácil.