quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Repercussão externa da queda do governo

A queda do governo provocou uma onda de choque na direita portuguesa que a deixou transtornada, surpreendida e enfurecida. O processo da sua manutenção no poder desenhara-se desde a campanha eleitoral com muita propaganda e nela participaram o próprio Presidente da República e a generalidade dos comentadores. Porém, ao contrário do que imaginaram, os resultados das eleições de 4 de Outubro não lhes permitiram manter-se no poder porque não dispunham do apoio parlamentar necessário, como determina a Constituição. Se a Lei é assim, porquê então tanta admiração? O ambiente criado foi tão crispado e até mesmo tão agressivo, que os menos avisados até poderiam pensar que se estava perante qualquer anormalidade constitucional. Houve até quem, irresponsavelmente, tivesse falado em golpe.
Perante este quadro de dramatismo criado e também de alguma incerteza quanto ao que aí vem, tratei de ir procurar na imprensa internacional a repercussão que tivera a queda do governo, porque com o que se ouvira por cá era de pensar que o mundo estaria em pânico perante o que se passara junto ao Tejo, no extremo ocidental da Europa.
Li as primeiras páginas de algumas centenas de jornais, desde o The Washington Post ao Financial Times, passando pelo Le Monde e pelo The Guardian. Vi os jornais escandinavos, americanos, alemães, australianos, brasileiros, indianos e de muitos mais países. As notícias dominantes eram a morte de Helmut Schmidt, a ameaça separatista de David Cameron, o processo catalão e os debates presidenciais nos Estados Unidos. Sobre Portugal e a queda do governo há apenas breves referências nas primeiras páginas de alguns jornais espanhóis, brasileiros, angolanos e moçambicanos. E a excepção são dois jornais gregos que destacam a queda do governo português com a fotografia do primeiro-ministro demitido na primeira página. Porque será que a imprensa grega deu esse destaque a Portugal? Será que depois de quatro anos de austeridade continuamos "iguais" à Grécia? Será que os nossos cofres afinal não estão cheios?
Assim, ao alarme e ao ódio que por aí se têm visto, António Gedeão responderia que, no resto do mundo, é “água quase tudo e cloreto de sódio”.