A queda do
governo provocou uma onda de choque na direita portuguesa que a
deixou transtornada, surpreendida e enfurecida. O processo da sua manutenção no
poder desenhara-se desde a campanha eleitoral com muita propaganda e nela
participaram o próprio Presidente da República e a generalidade dos
comentadores. Porém, ao contrário do que imaginaram, os resultados das eleições
de 4 de Outubro não lhes permitiram manter-se no poder porque não dispunham do
apoio parlamentar necessário, como determina a Constituição. Se a Lei é assim, porquê
então tanta admiração? O ambiente criado
foi tão crispado e até mesmo tão agressivo, que os menos avisados até poderiam
pensar que se estava perante qualquer anormalidade constitucional. Houve até
quem, irresponsavelmente, tivesse falado em golpe.
Perante este
quadro de dramatismo criado e também de alguma incerteza quanto ao que aí vem, tratei
de ir procurar na imprensa internacional a repercussão que tivera a queda do governo,
porque com o que se ouvira por cá era de pensar que o mundo estaria em pânico perante
o que se passara junto ao Tejo, no extremo ocidental da Europa.
Li as primeiras
páginas de algumas centenas de jornais, desde o The Washington Post ao Financial
Times, passando pelo Le Monde e
pelo The Guardian. Vi os jornais
escandinavos, americanos, alemães, australianos, brasileiros, indianos e de muitos mais países. As
notícias dominantes eram a morte de Helmut Schmidt, a ameaça separatista de
David Cameron, o processo catalão e os debates presidenciais nos Estados
Unidos. Sobre Portugal e a queda do governo há apenas breves referências nas
primeiras páginas de alguns jornais espanhóis, brasileiros, angolanos e
moçambicanos. E a excepção são dois jornais gregos que destacam a queda do
governo português com a fotografia do primeiro-ministro demitido na primeira página. Porque será que a imprensa grega deu esse destaque a Portugal? Será que depois de quatro anos de austeridade continuamos "iguais" à Grécia? Será que os nossos cofres afinal não estão cheios?
Assim, ao alarme
e ao ódio que por aí se têm visto, António Gedeão responderia que, no resto do
mundo, é “água quase tudo e cloreto de sódio”.