A notícia chegou
esta manhã vinda de Goa e informava que, aos 96 anos de idade, falecera o
comendador Percival Noronha.
Percival Noronha era
bom amigo, era um conhecedor profundo da cultura goesa e esteve toda a sua vida ligado ao
património cultural de Goa, quer no tempo da administração portuguesa do Estado
da Índia, quer depois quando o território foi integrado na União Indiana.
Conhecia como ninguém as ruas e as pedras da Velha Cidade onde se movimentava
com naturalidade, como se aquele espaço museológico ainda estivesse no seu
esplendor do século XVII. Conhecia os monumentos militares e religiosos e a sua
história, a arte indo-portuguesa desde o mobiliário à joalharia, as tradições
culturais religiosas e profanas e, também, as pequenas coisas que não estão
escritas nos livros e que verdadeiramente fazem a história de Goa. Investigadores
do mundo inteiro, sobretudo portugueses, recorriam aos seus saberes e nele
encontravam sempre grande disponibilidade e alguma coisa de útil para as suas
pesquisas. Humilde e discreto, vivia na sua casa do bairro das Fontainhas. Era
um símbolo da cultura de Goa e, provavelmente, o goês mais conhecido nos meios
académicos portugueses.
Afirmava a sua íntima
ligação cultural a Portugal sem quaisquer complexos e era um símbolo da amizade
luso-goesa, contrariando muitas vezes as correntes anti-portuguesas que, por
moda ou por conveniência política, por vezes se manifestavam em Goa. Em 2014, muito
justamente, tinha sido condecorado pelo governo português com o grau de
Comendador da Ordem do Infante D. Henrique e sei bem quanto isso o orgulhou.
Goa fica muito
mais pobre com o desaparecimento de Percival Noronha e eu aqui lhe presto a
minha homenagem.