segunda-feira, 19 de agosto de 2019

R.I.P. Percival Noronha

A notícia chegou esta manhã vinda de Goa e informava que, aos 96 anos de idade, falecera o comendador Percival Noronha.
Percival Noronha era bom amigo, era um conhecedor profundo da cultura goesa e esteve toda a sua vida ligado ao património cultural de Goa, quer no tempo da administração portuguesa do Estado da Índia, quer depois quando o território foi integrado na União Indiana. Conhecia como ninguém as ruas e as pedras da Velha Cidade onde se movimentava com naturalidade, como se aquele espaço museológico ainda estivesse no seu esplendor do século XVII. Conhecia os monumentos militares e religiosos e a sua história, a arte indo-portuguesa desde o mobiliário à joalharia, as tradições culturais religiosas e profanas e, também, as pequenas coisas que não estão escritas nos livros e que verdadeiramente fazem a história de Goa. Investigadores do mundo inteiro, sobretudo portugueses, recorriam aos seus saberes e nele encontravam sempre grande disponibilidade e alguma coisa de útil para as suas pesquisas. Humilde e discreto, vivia na sua casa do bairro das Fontainhas. Era um símbolo da cultura de Goa e, provavelmente, o goês mais conhecido nos meios académicos portugueses.
Afirmava a sua íntima ligação cultural a Portugal sem quaisquer complexos e era um símbolo da amizade luso-goesa, contrariando muitas vezes as correntes anti-portuguesas que, por moda ou por conveniência política, por vezes se manifestavam em Goa. Em 2014, muito justamente, tinha sido condecorado pelo governo português com o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique e sei bem quanto isso o orgulhou.
Goa fica muito mais pobre com o desaparecimento de Percival Noronha e eu aqui lhe presto a minha homenagem.