segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Todo o mundo é composto de mudança

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança. Todo o mundo é composto de mudança...
Isto escreveu Luís de Camões, em meados do século XVI, mas foi exactamente isso que aconteceu ontem na Andaluzia, uma comunidade autónoma espanhola com 87 mil km2 e com mais de 8 milhões de habitantes, isto é, uma comunidade aqui ao lado e com quase o mesmo tamanho geográfico e demográfico de Portugal.
O PSOE governava a Andaluzia há 36 anos e ontem, apesar de ter sido o partido mais votado nas eleições regionais, apenas conseguiu eleger 33 dos 109 deputados do parlamento andaluz. Estes deputados, somados com os 17 da coligação de esquerda Adelante Andalucia, somam 50 deputados, o que fica abaixo da maioria absoluta de 55 deputados que é necessária para formar governo. Por outro lado, os partidos e coligações de direita conseguiram uma maioria de 59 deputados (PP com 26 deputados, Ciudadanos com 21 deputados e o novo Vox com 12 deputados). Parece não haver dúvidas sobre o que vai acontecer ao governo da Andaluzia, depois da derrota do PSOE e do PP, isto é, os partidos tradicionais da Espanha e com o aparecimento do Vox, que se declara de extrema-direita.
É, como se costuma dizer nestas circunstâncias, um terramoto político. O problema está em avaliar até que ponto este terramoto terá réplicas, não só no resto da Espanha, mas até mesmo em Portugal, uma vez que sociologicamente há poucas diferenças entre a Andaluzia e Portugal. O facto é que na Andaluzia, tal como em Portugal, o partido mais votado não irá governar.