Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o
ser, muda-se a confiança. Todo o mundo é composto de mudança...
Isto escreveu
Luís de Camões, em meados do século XVI, mas foi exactamente isso que aconteceu
ontem na Andaluzia, uma comunidade autónoma espanhola com 87 mil km2
e com mais de 8 milhões de habitantes, isto é, uma comunidade aqui ao lado e
com quase o mesmo tamanho geográfico e demográfico de Portugal.
O PSOE governava
a Andaluzia há 36 anos e ontem, apesar de ter sido o partido mais votado nas
eleições regionais, apenas conseguiu eleger 33 dos 109 deputados do parlamento
andaluz. Estes deputados, somados com os 17 da coligação de esquerda Adelante Andalucia, somam 50 deputados,
o que fica abaixo da maioria absoluta de 55 deputados que é necessária para
formar governo. Por outro lado, os partidos e coligações de direita conseguiram
uma maioria de 59 deputados (PP com 26 deputados, Ciudadanos com 21 deputados e o novo Vox com 12 deputados). Parece não haver dúvidas sobre o que vai
acontecer ao governo da Andaluzia, depois da derrota do PSOE e do PP, isto é,
os partidos tradicionais da Espanha e com o aparecimento do Vox, que se declara de extrema-direita.
É, como se
costuma dizer nestas circunstâncias, um terramoto político. O problema está em
avaliar até que ponto este terramoto terá réplicas, não só no resto da Espanha,
mas até mesmo em Portugal, uma vez que sociologicamente há poucas diferenças
entre a Andaluzia e Portugal. O facto é que na Andaluzia, tal como em Portugal, o partido mais votado não irá governar.
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