quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Um livro para ler e para reler

Os privilegiados é o título de um livro recente de Gustavo Sampaio que merece toda a nossa atenção, pois revela a forma despudorada e muitas vezes ilegal, como demasiados agentes políticos misturam o interesse público e o interesse privado ou, como escreve o autor, “como os políticos e ex-políticos gerem interesses, movem influências e beneficiam de direitos adquiridos”. Porém, os protagonistas do livro não são apenas uns privilegiados mas, frequentemente, são uns indivíduos sem escrúpulos que enriqueceram à sombra do Estado e que com o emblema partidário na lapela, lesam o interesse público que deveriam defender e actuam em proveito próprio ou das organizações empresariais a que estão ligados. Muitas vezes, nem formação académica têm para a diversidade de cargos que abarcam e a forma como circulam do Estado para o meio empresarial e deste para o Estado, acumulando remunerações, prémios e mordomias, é reveladora de um mundo obscuro de interesses e de uma casta de gente sem princípios. Alguns enriqueceram em poucos anos de forma incompreensível. Outros adquiriram títulos académicos viciados. É uma vergonha para eles, mas também para todos nós que pagamos impostos.
Os privilegiados trata com detalhe e rigor quatro grandes temas - os conflitos de interesses na Assembleia da República, o fluxo de ex-políticos para as grandes empresas, os direitos adquiridos pela classe política (incluindo as subvenções vitalícias) e a colonização dos cargos dirigentes. O autor baseia-se numa exaustiva e rigorosa pesquisa documental, revelando muitos nomes e números que nos deixam verdadeiramente estarrecidos por ser inimaginável tanta promiscuidade, tanto egoísmo e tanta desonestidade intelectual. Talvez o livro devesse intitular-se “Os abutres” ou “Os Tubarões” ou “Os Miseráveis”.
Parabéns ao autor que, sendo jovem, é homem de coragem!

A luta contra o lixo no Rio de Janeiro

As autoridades da cidade do Rio de Janeiro decidiram criar um programa de limpeza – o Programa Lixo Zero – que visa diminuir a despesa com a limpeza urbana, melhorar a recolha selectiva de resíduos sólidos urbanos e, ao mesmo tempo, promover a educação ambiental e a criação de hábitos de higiene na cidade. Este programa tem sido desenvolvido em diversas cidades brasileiras, mas também em algumas cidades dos Estados Unidos e da Austrália, no pressuposto de que é necessária uma atitude mais consequente das autoridades municipais em relação à higiene urbana, mas também que os serviços de limpeza municipais são demasiado dispendiosos para a comunidade. O programa irá punir quem usar as ruas e os passeios para deixar pontas de cigarro, embalagens, copos de plástico ou outros resíduos, podendo as multas variar desde os 157 aos 3 mil reais. Ontem foi o primeiro dia do Lixo Zero com a actuação de cerca de seis dezenas de equipas de intervenção no centro do Rio de Janeiro e, ao fim do dia, tinham sido multadas 110 pessoas em flagrante, por atirarem lixo para a rua.
O programa em curso no Rio de Janeiro bem poderia ser aplicado em Lisboa ou em algumas zonas da cidade, pois estão literalmente ocupadas pelo lixo e, sobretudo, por dejectos de cães. É um problema de higiene pública e de degradação ambiental que resulta da falta de educação cívica dos moradores, mas também da ineficaz fiscalização das autoridades municipais.
Actuem e copiem o Rio de Janeiro!

O cisma dos engenheiros portugueses

Nos últimos dias foram divulgados alguns indicadores económicos relativos ao 2º trimestre de 2013 que, se não fossem resultantes de situações sazonais, seriam excelentes sinais de recuperação económica.
O desemprego caiu para 16,4%, isto é, teve uma quebra de 1,3% relativamente ao trimestre anterior (mais 1,4% em relação ao mesmo período de 2012), enquanto o produto cresceu 1,1% relativamente ao trimestre anterior (menos 2,0% em relação ao mesmo período de 2012). Enquanto o aparatik tem utilizado estes números com euforia e como propaganda, designadamente na televisão, outros têm ficado na expectativa para ver se estes sinais têm sustentabilidade. O próprio ministro da Economia foi um homem bem avisado e considerou surpreendente a dimensão da redução do desemprego, pelo que pediu “cautela” em relação a este indicador e, alguns dias depois, pediu “prudência” na análise dos dados relativos ao crescimento do produto.
Vem isto a propósito de uma informação veiculada pela Ordem dos Engenheiros, baseada nas declarações abonatórias que passou aos seus sócios: nos primeiros sete meses do ano emigraram 436 engenheiros, quase tantos como os 452 que emigraram em 2012 e mais do dobro dos 207 que emigraram em 2011. Haverá indicador mais preocupante do que este? Haverá algum país que se possa desenvolver com esta sangria de engenheiros? Ou será que os engenheiros portugueses “ouviram” o apelo do seu governo para emigrar? Numa altura em que precisamos dos melhores, o investimento feito na formação dos nossos engenheiros está a servir noutras paragens. Com este quadro, como é que há gente eufórica com o crescimento do produto no 2º trimestre?