Os
privilegiados é o título de um livro recente de Gustavo Sampaio que merece
toda a nossa atenção, pois revela a forma despudorada e muitas vezes ilegal,
como demasiados agentes políticos misturam o interesse público e o interesse
privado ou, como escreve o autor, “como os políticos e ex-políticos gerem
interesses, movem influências e beneficiam de direitos adquiridos”. Porém, os
protagonistas do livro não são apenas uns privilegiados mas, frequentemente,
são uns indivíduos sem escrúpulos que enriqueceram à sombra do Estado e que com
o emblema partidário na lapela, lesam o interesse público que deveriam defender
e actuam em proveito próprio ou das organizações empresariais a que estão
ligados. Muitas vezes, nem formação académica têm para a diversidade de cargos
que abarcam e a forma como circulam do Estado para o meio empresarial e deste
para o Estado, acumulando remunerações, prémios e mordomias, é reveladora de um
mundo obscuro de interesses e de uma casta de gente sem princípios. Alguns
enriqueceram em poucos anos de forma incompreensível. Outros adquiriram títulos
académicos viciados. É uma vergonha para eles, mas também para todos nós que
pagamos impostos.
Os privilegiados trata com
detalhe e rigor quatro grandes temas - os conflitos de interesses na Assembleia
da República, o fluxo de ex-políticos para as grandes empresas, os direitos
adquiridos pela classe política (incluindo as subvenções vitalícias) e a colonização
dos cargos dirigentes. O autor baseia-se numa exaustiva e rigorosa pesquisa
documental, revelando muitos nomes e números que nos deixam verdadeiramente
estarrecidos por ser inimaginável tanta promiscuidade, tanto egoísmo e tanta
desonestidade intelectual. Talvez o livro devesse intitular-se “Os abutres” ou “Os
Tubarões” ou “Os Miseráveis”.
Parabéns ao autor que, sendo jovem, é homem de coragem!