domingo, 10 de outubro de 2021

Nem tudo foi perfeito na nossa existência

Sabe-se bem como as ciências sociais, ao contrário das ciências exactas, são susceptíveis de interpretações distorcidas que normalmente são feitas pelos vencedores, pelas maiorias ou pela classe dominante. A História não é uma excepção a essa regra e, por isso, as verdades vão sendo encontradas e interpretadas ao sabor dos tempos. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, como já tinha escrito Camões. Quantos acontecimentos já foram registados como uma coisa, depois com outra versão e, ainda, com uma outra? A História não é, portanto, uma ciência exacta, nem definitiva e, por isso, aqueles que hoje têm uma nova interpretação dos factos históricos que contraria a versão dominante, não sabem se em breve surgirão ou não documentos que mostrem uma realidade diferente.
Significa, portanto, que os movimentos desencadeados ultimamente por algumas minorias, embora sejam legítimos, não se podem arvorar em donos da verdade. A moda da destruição de monumentos e do derrube de estátuas, enquanto símbolos da escravidão e do colonialismo, gerou exageros e o principal terá sido a perseguição que foi feita às estátuas de Cristóvão Colombo. Essa moda chegou a Portugal e deu origem a algumas polémicas como o triste caso dos brasões florais na Praça do Império, a vandalização da estátua do Padre António Vieira e até a absurda reivindicação para que o Padrão dos Descobrimentos fosse demolido. Agora, apareceu “o desconforto com as pinturas da sala de visitas da Assembleia da República”, conforme salientava o jornal Público na sua edição de ontem.
Porém, o derrube de estátuas, a vandalização de monumentos ou a exclusão de pinturas murais não muda nada do que aconteceu. Será que ainda vão reivindicar a demolição da Torre de Belém ou do Palácio Nacional de Mafra com o argumento que foram feitos com mão-de-obra escrava e sem contrato colectivo de trabalho? Naturalmente, nem tudo foi perfeito na nossa existência secular.