Sabe-se bem como
as ciências sociais, ao contrário das ciências exactas, são susceptíveis de
interpretações distorcidas que normalmente são feitas pelos vencedores, pelas
maiorias ou pela classe dominante. A História não é uma excepção a essa regra
e, por isso, as verdades vão sendo encontradas e interpretadas ao sabor dos
tempos. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, como já tinha escrito Camões.
Quantos acontecimentos já foram registados como uma coisa, depois com outra versão
e, ainda, com uma outra? A História não é, portanto, uma ciência exacta, nem
definitiva e, por isso, aqueles que hoje têm uma nova interpretação dos factos
históricos que contraria a versão dominante, não sabem se em breve surgirão ou
não documentos que mostrem uma realidade diferente.
Significa,
portanto, que os movimentos desencadeados ultimamente por algumas minorias,
embora sejam legítimos, não se podem arvorar em donos da verdade. A moda da
destruição de monumentos e do derrube de estátuas, enquanto símbolos da
escravidão e do colonialismo, gerou exageros e o principal terá sido a
perseguição que foi feita às estátuas de Cristóvão Colombo. Essa moda chegou a
Portugal e deu origem a algumas polémicas como o triste caso dos brasões
florais na Praça do Império, a vandalização da estátua do Padre António Vieira
e até a absurda reivindicação para que o Padrão dos Descobrimentos fosse
demolido. Agora, apareceu “o desconforto com as pinturas da sala de visitas da
Assembleia da República”, conforme salientava o jornal Público na sua edição de
ontem.
Porém, o derrube
de estátuas, a vandalização de monumentos ou a exclusão de pinturas murais não
muda nada do que aconteceu. Será que ainda vão reivindicar a demolição da Torre
de Belém ou do Palácio Nacional de Mafra com o argumento que foram feitos com mão-de-obra
escrava e sem contrato colectivo de trabalho? Naturalmente, nem tudo foi
perfeito na nossa existência secular.