segunda-feira, 6 de novembro de 2023

MRS: atropelado pelas próprias palavras

Desde o dia 24 de Agosto, quando Marcelo Rebelo de Sousa (MRS) deixou a algarvia praia de Monte Gordo para visitar a ucraniana cidade de Kyev, que não era sujeito de notícia neste espaço pois, lamentavelmente, o facto de falar sobre tudo e a toda a hora, tornou as palavras presidenciais um não-assunto. Porém, na passada sexta-feira, durante uma visita ao Bazar Diplomático, no Centro de Congressos de Lisboa, MRS encontrou-se com o chefe da missão diplomática da Palestina em Portugal e disse-lhe que “alguns palestinianos não deviam ter começado” esta guerra com Israel, confundindo a Palestina com o Hamas e esquecendo o historial de conflito entre Israel e a Palestina. O assunto é melindroso e MRS, ou distraiu-se, ou não percebeu isso. Nem o local, nem o tom utilizado foram apropriados e as críticas surgiram de todos os sectores políticos e sociais, incluindo de alguns amigos.
Houve depois uma tentativa de emenda, mas nada foi emendado. No domingo, numa atitude de narcisismo, de grande demagogia e de um populismo insuportável, MRS saiu do seu palácio – não para ir ao Multibanco, nem para comer um gelado – mas para ir ver a manifestação que no Jardim Afonso de Albuquerque exigia um cessar-fogo em Gaza, exactamente como têm feito as Nações Unidas e quase todo o mundo. Porém, o Presidente da República não pode andar a ver manifestações…
Como se viu, MRS rodeou-se de ajudantes de campo e de seguranças, o que significa que este seu capricho presidencial, nos custou bom dinheiro em horas extraordinárias a ser pagas àqueles servidores do Estado. As imagens televisivas mostraram o protesto contra as anteriores declarações presidenciais e o Presidente da República a ser confrontado e insultado por alguns manifestantes, tendo havido quem o acusasse de já não ser comentador e até de ser uma vergonha. Quem anda à chuva molha-se e MRS nunca passara por uma situação como esta, pelo que o humor de Ricardo Araújo Pereira não o poupou.
Muitas prestações presidenciais começam a roçar a banalidade e o ridículo e, nesse aspecto, MRS tende a aproximar-se cada vez mais do venerando Chefe do Estado, que foi o Almirante Américo Tomaz e viveu naquele mesmo palácio entre 1958 e 1974.