terça-feira, 29 de outubro de 2019

Argentina e Brasil com rumos diferentes

Nos últimos tempos realizaram-se eleições presidenciais em Moçambique, na Bolívia e na Argentina, mas enquanto Filipe Nyusi e Evo Morales renovaram os seus mandatos, o presidente Mauricio Macri foi derrotado por Alberto Fernández que vai ser o presidente da Argentina, o país que viu nascer o Papa Francisco e Ernesto "Che" Guevara, Lionel Messi e Diego Maradona, Carlos Gardel e Jorge Luis Borges, Juan Manuel Fangio e Juan Domingo Perón.
Na sua primeira mensagem no Twitter o presidente eleito agradeceu a vitória aos seus apoiantes e publicou uma fotografia em que aparece a desenhar um “L” com o indicador e o polegar da mão esquerda — um símbolo do movimento que pede a libertação de Lula da Silva, o antigo presidente do Brasil. A fotografia vinha acompanhada de um texto que dizia que “também hoje faz anos o meu amigo Lula, um homem extraordinário que está injustamente preso há um ano e meio”, acrescentando “parabéns para si, querido Lula. Espero ver-te em breve”. Jair Bolsonaro, a partir da capital brasileira, não gostou daquelas afirmações e afirmou ser “uma afronta à democracia brasileira e ao sistema judiciário brasileiro”, recusando-se a felicitar o novo presidente da Argentina.
Parece, portanto, abrir-se um tempo de incerteza ou mesmo de tensão entre os dois maiores países da América do Sul, cuja rivalidade vai muito para além do futebol. Porém, a malha de interesses económicos e comerciais entre eles é tão intensa que, certamente, nenhum ousará criar incidentes diplomáticos ou rupturas comerciais. É exactamente isso que salienta a edição de ontem do Correio Braziliense, isto é, a esquerda peronista na Argentina e a direita ultra-conservadora de Jair Bolsonaro vão ter de conviver, embora a navegar com rumos ideológicos bem diferentes.