quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A crise financeira já chegou à Alemanha?

A imprensa europeia destacou hoje que o Tesouro alemão, num leilão da sua dívida realizado ontem, apenas colocou 61% de um pacote de 6 mil milhões de euros e sofreu a maior subida de juros desde a criação da moeda única. Disse-se, então, que aquele leilão foi um sintoma de que a crise financeira pode estar a chegar à Alemanha e que esta "provou um pouco do seu próprio veneno".
São apontadas três razões principais para este desinteresse dos investidores pela dívida alemã. Em primeiro lugar, a percepção de que a crise e as dificuldades financeiras estão a chegar à Alemanha por abrandamento económico, por contágio e por exposição às dívidas de vários países; em segundo lugar, o facto do juro de 2% representar um rendimento demasiado baixo para ser considerado atraente para os investidores, quando em alternativa têm aplicações com juros bem mais altos em outros países; em terceiro lugar, um eventual afastamento de investidores de fora da Zona Euro, que antes compravam dívida pública em euros.
Actualmente, a Zona Euro já estará em recessão e, previsivelmente, irá ampliar os seus défices orçamentais e enfraquecer ainda mais a qualidade dos activos bancários. O "aviso" agora feito à Alemanha pode abrir caminho a novas soluções. Por isso, começam a surgir vozes que exigem uma mudança no comportamento do governo alemão na condução da crise das dívidas soberanas europeias. Muitos consideram que a chanceler devia adoptar uma postura diferente, dando o seu acordo para a emissão conjunta de obrigações europeias (eurobonds) e para que o Banco Central Europeu actue como credor de último recurso. É preciso que a Alemanha mude de estratégia e, como afirmou Manuel Marin, o antigo vice-presidente da Comissão Europeia, "necesitamos una Alemania europea y no una Europa alemana".

A greve geral como protesto

Hoje, 24 de Novembro, há uma greve geral em Portugal promovida conjuntamente pelas duas maiores centrais sindicais, que afecta todo o tipo de transportes, as escolas e os hospitais, os serviços públicos e as repartições, enfim, transtorna a vida dos portugueses.
Foi anunciado que a greve contesta as recentes medidas de austeridade do governo, nomeadamente os cortes nos subsídios de férias e de Natal dos funcionários do sector público, mas também os "enormes e brutais sacrifícios" pedidos aos trabalhadores.
Segundo a teoria, a greve é uma arma dos trabalhadores contra os patrões que exploram a força de trabalho alheia, acumulam mais-valias e enriquecem à custa dos trabalhadores. Por isso, embora sob a capa de uma greve geral, na realidade estamos perante um quadro diferente de motivações que não são de reivindicação salarial mas que se traduz num protesto contra as políticas que nos estão a ser impostas e que o nosso impreparado governo segue fielmente.
No difícil momento por que passamos é necessário alertar este governo de maioria e acordá-lo para as realidades, porque tem sido incapaz de ir para além do caderno de encargos da troika e está a castigar o mundo do trabalho e os pensionistas com severidade, enquanto poupa a classe política, a banca e a especulação financeira. Sem dúvida que é preciso reduzir a dívida e o défice, mas isso não se consegue sem coesão social, nem com este empobrecimento material, nem com esta inquietação psicológica que estão a ser impostos aos portugueses. Esta espiral de austeridade e recessão que nos é imposta por uns contabilistas apoiados por numerosos e dispendiosos assessores, é uma cartilha suicida que nos pode levar ao desastre económico e à desordem social.
Por tudo isto, esta greve geral é justa e apenas se espera que tenha eco e produza efeitos nas instâncias internas e internacionais que nos governam ou nos financiam.