As manchetes dos
jornais destinam-se a chamar a atenção das pessoas, a suscitar o seu interesse
e a fazer com que comprem os jornais. Têm, quase sempre, uma certa dose de
sensacionalismo e, por vezes, nem sequer correspondem a factos verdadeiros e
não passam de meras especulações. Porém, como diria o poeta António Aleixo,
“para a mentira ser segura e atingir profundidade tem de trazer à mistura
qualquer coisa de verdade”. Nesse sentido, mesmo as mais sensacionalistas
manchetes têm sempre qualquer coisa de verdade e, por isso, a repetida frase
que nos diz que uma imagem vale mais que
mil palavras, bem pode dar origem a uma curiosa derivação e talvez possamos
passar a dizer que uma manchete vale mais
do que mil palavras.
Isto vem a
propósito da manchete da edição de hoje do jornal i que vem dizer-nos que as
ajudas aos bancos custaram o equivalente a 23 Pontes Vasco da Gama. Ficamos
absolutamente arrepiados com essa informação e com essa pouca vergonha, só
possível pelas cumplicidades e pela promiscuidade que tem havido entre a Banca
e a Política. Sabemos que a banca arranjou muitos empregos aos políticos e aos
protegidos dos políticos, que distribuiu milhões em dividendos aos accionistas
e outros tantos milhões em remunerações e prémios aos seus incompetentes ou
desonestos gestores que continuam a andar por aí. Sabemos como os quadros superiores
da banca continuam a disfrutar de benesses e mordomias como mais nenhum outro
sector de actividade usufrui em Portugal. E, no entanto, nada muda e vivemos
nesta angustiante realidade em que os contribuintes pagam os prejuízos da
banca, enquanto ela absorve os lucros que tem e que não tem.
É ou não é uma
pouca vergonha?