terça-feira, 5 de junho de 2018

Mais um caso de pouca vergonha

As manchetes dos jornais destinam-se a chamar a atenção das pessoas, a suscitar o seu interesse e a fazer com que comprem os jornais. Têm, quase sempre, uma certa dose de sensacionalismo e, por vezes, nem sequer correspondem a factos verdadeiros e não passam de meras especulações. Porém, como diria o poeta António Aleixo, “para a mentira ser segura e atingir profundidade tem de trazer à mistura qualquer coisa de verdade”. Nesse sentido, mesmo as mais sensacionalistas manchetes têm sempre qualquer coisa de verdade e, por isso, a repetida frase que nos diz que uma imagem vale mais que mil palavras, bem pode dar origem a uma curiosa derivação e talvez possamos passar a dizer que uma manchete vale mais do que mil palavras. 
Isto vem a propósito da manchete da edição de hoje do jornal i que vem dizer-nos que as ajudas aos bancos custaram o equivalente a 23 Pontes Vasco da Gama. Ficamos absolutamente arrepiados com essa informação e com essa pouca vergonha, só possível pelas cumplicidades e pela promiscuidade que tem havido entre a Banca e a Política. Sabemos que a banca arranjou muitos empregos aos políticos e aos protegidos dos políticos, que distribuiu milhões em dividendos aos accionistas e outros tantos milhões em remunerações e prémios aos seus incompetentes ou desonestos gestores que continuam a andar por aí. Sabemos como os quadros superiores da banca continuam a disfrutar de benesses e mordomias como mais nenhum outro sector de actividade usufrui em Portugal. E, no entanto, nada muda e vivemos nesta angustiante realidade em que os contribuintes pagam os prejuízos da banca, enquanto ela absorve os lucros que tem e que não tem.
É ou não é uma pouca vergonha?

Um caso de pouca vergonha

O Expresso anunciou na sua última edição que o ex-banqueiro Jardim Gonçalves ganhou a acção que moveu contra o Millenium BCP no Tribunal de Sintra e vai continuar a receber a pensão de reforma de 167.000 euros mensais que vem recebendo desde 2005, mais as despesas em segurança, carro e motorista que o banco suspendera em 2010, mas que o tribunal agora obrigou a pagar retroactivamente e que já atingem 2.124.000 euros.
O banco tem procurado chegar a acordo com todos os antigos administradores para aceitarem a redução do valor das suas reformas e das suas regalias e todos terão aceite as propostas do banco, excepto Jardim Gonçalves que se reformou em 2005 quando tinha 69 anos de idade.
O senhor Gonçalves é um caso verdadeiramente inacreditável de ganância e de obscenidade social, que choca qualquer criatura, mas a que o tribunal foi indiferente. O juiz cedeu aos argumentos de um bom advogado e ter-se-à agarrado a uma qualquer lei para achar justa uma reforma mensal de 167 mil euros, num país onde o salário mínimo não chega aos 600 euros. O meretíssimo que produziu a sentença ofendeu o bom senso e a racionalidade, lesando os contribuintes portugueses que, directa ou indirectamente, pagam todos os devaneios do senhor Gonçalves. Não sei o que diz a lei, mas este caso parece mesmo um caso de uma terra fora da lei.
É mesmo um caso de pouca vergonha!