Há
meia dúzia de anos atrás, um antigo vice-presidente da Câmara Municipal do
Porto chamado Paulo Morais afirmou que "o
centro de corrupção em Portugal tem sido a Assembleia da República, pela
presença de deputados que são, simultaneamente, administradores de
empresas" e, acrescentou, que a Assembleia da República "parece mais um verdadeiro escritório de
representações, com membros da comissão de obras públicas que trabalham para
construtores e da comissão de saúde que trabalham para laboratórios médicos". Dizia Paulo Morais, que "os
deputados estão ao serviço de quem os financiou e não de quem os elegeu".
Estas declarações não ficaram escondidas numa qualquer página interior de um
jornal, pois Paulo Morais repetiu-as com frequência quando da sua recente candidatura
presidencial.
Porém, passados todos estes anos,
nada foi feito para acabar com esta situação de promiscuidade, como mostra o recente caso do a-núncio
e das relações entre o poder político e os escritórios de advogados. Ao mesmo
tempo revelam-se outras situações igualmente perversas, que desacreditam a vida
parlamentar e cavam um enorme fosso entre eleitos e eleitores. Foi o que agora revelou
em livro e repetiu numa entrevista publicada no jornal i, o antigo
deputado Magalhães. Nessa entrevista ficamos a saber que os deputados, para
além do seu generoso salário, têm abonos complementares para trabalho de círculo ou para
trabalho nacional, cujo pagamento não é sujeito a qualquer comprovativo ou
verificação. É à vontade do freguês! É, por isso, um segundo salário não
sujeito a impostos, havendo quem chegue a receber 80 mil euros por ano em
subsídios de deslocações, por causa dos contactos com as comunidades de
emigrantes. Daí resulta que os 230 deputados com assento na Assembleia da
República, muitos deles sem trabalho efectivo ao serviço de quem os elegeu, tenham
230 remunerações diferentes, que são pagas pelos contribuintes.
Sim, é mesmo verdade: muitas daquelas figurinhas ali sentadas com ar de parlamentares não têm vergonha nenhuma.
Sim, é mesmo verdade: muitas daquelas figurinhas ali sentadas com ar de parlamentares não têm vergonha nenhuma.