sexta-feira, 8 de março de 2024

Violência e morte a norte de Moçambique

Há quase sessenta anos, no cumprimento de funções militares-navais no norte de Moçambique, visitamos com muita frequência as três dezenas de ilhas do arquipélago das Quirimbas e, de modo especial, a ilha do Ibo e a ilha Quirimba, que eram ambas habitadas.
A ilha do Ibo tem um passado histórico ligado aos tempos da escravatura, foi a sede da Companhia do Niassa e, até à independência moçambicana, a vila do Ibo foi sede de uma circunscrição territorial do distrito de Cabo Delgado. Quase contígua, encontra-se a ilha Quirimba, onde vivia uma família de origem alemã, que mantinha alguns negócios com base no óleo de palma e dava emprego a muitos naturais. Das três dezenas de ilhas do arquipélago, o Ibo e a Quirimba destacavam-se pelo elevado grau de ocidentalização de muitos dos seus habitantes e pela beleza da sua paisagem marítima, os areais e os recifes de coral, os mangais e os palmares, a cor das águas, bem como alguns vestígios de antigas fortificações portuguesas.
Em finais de 2017 começaram a manifestar-se no distrito de Cabo Delgado algumas acções muito violentas de insurreição islâmica conduzidas pelo grupo Ansar al-Sunna, que pretende criar um Estado Islâmico em Moçambique. As populações foram violentadas e daí resultaram cerca de 500 mil refugiados, tendo aquele grupo islâmico conseguido ocupar durante algum tempo algumas povoações litorais como Palma e Mocímboa da Praia, sem que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) tivessem conseguido opor-se-lhe eficazmente. Os investimentos internacionais no petróleo e no gás da bacia do Rovuma estiveram suspensos. Porém, desde há vários meses que a situação parecia controlada. 
Agora, segundo anunciou ontem a folha informativa mediaFax, que se publica diariamente no Maputo, ”os terroristas entraram e ocuparam a ilha Quirimba sem qualquer reacção e oposição das Forças de Defesa e Segurança” e “parece que continuam a reinar e a governar”. Diz aquela folha que “há relatos de perseguição e decapitação de agentes das FDS na ilha” e que, na vizinha ilha do Ibo, "o ambiente de medo tomou conta da ilha".
Esta notícia é altamente preocupante e mostra como as FDS moçambicanas não conseguem impedir os avanços dos radicais islâmicos, mas também é chocante e dolorosa para quem conheceu intensamente aquelas ilhas, que imaginava serem um paraíso na costa oriental africana.