quarta-feira, 8 de novembro de 2023

António Costa, a crise e o que vem aí

O primeiro-ministro António Costa demitiu-se ontem e a sua demissão foi aceite pelo presidente da República. O país que bem conhece aquele governante há muito tempo e que há menos de dois anos lhe dera uma maioria absoluta nas eleições, foi apanhado de surpresa. Agora, aproxima-se uma grande crise política e muita instabilidade em Portugal. 
Ontem, durante a manhã, o Gabinete de Imprensa do Ministério Público tinha emitido um comunicado em que informava que estavam em curso “diligências de busca para identificação e apreensão de documentos e outros meios de prova de interesse para a descoberta da verdade”, pois poderão estar em causa “factos susceptíveis de constituir crimes de prevaricação, de corrupção activa e passiva de titular de cargo político e de tráfico de influência”. O comunicado acrescentava que o Ministério Público emitira mandados de detenção do chefe de gabinete do primeiro-ministro e da constituição como arguido de outros suspeitos, designadamente do Ministro das Infraestruturas. Depois, o comunicado levantava suspeitas sobre o próprio primeiro-ministro e informava que “tais referências serão autonomamente analisadas no âmbito de inquérito instaurado no Supremo Tribunal de Justiça, por ser esse o foro competente”.
António Costa deve ter ficado em estado de choque perante este comunicado, tendo entendido que o poder judicial estava a interferir na política governamental e decidiu demitir-se. Foi um acto de grande dignidade e o país avaliará quem tem razão.
Acontece que, nos últimos anos, a sociedade portuguesa tem sido confrontada com frequentes insinuações de supostos ilícitos de muitos dirigentes políticos e empresariais, que mais parecem acções de perseguição pessoal e levam a “julgamentos na praça pública”, em vez de procurarem a verdade. Muitas vezes, os factos nem precisam de ser provados, pois alguma comunicação social encarrega-se da repetição das insinuações que, de tanto repetidas, passam a ser tomadas como verdadeiras, num quase “terrorismo mediático”. A conta-gotas, aparecerão agora as fugas de informação que os "pasquins de serviço" tratarão de manipular, para corromper a democracia e a sociedade. Este tipo de teia judicial-mediática que visa a eliminação política de dirigentes e o descrédito da democracia, é vulgar na América Latina, mas também já chegou a Portugal. Há quem lhe chame “golpe de estado judicial”.
Na política não há insubstituíveis, mas eu presto a minha homenagem a António Costa pela sua dedicação à causa pública.