O
primeiro-ministro António Costa demitiu-se ontem e a sua demissão foi aceite pelo
presidente da República. O país que bem conhece aquele governante há muito
tempo e que há menos de dois anos lhe dera uma maioria absoluta nas eleições, foi apanhado
de surpresa. Agora, aproxima-se uma grande crise política e muita instabilidade
em Portugal.
Ontem, durante a manhã, o Gabinete de Imprensa do Ministério Público
tinha emitido um comunicado em que informava que estavam em curso “diligências
de busca para identificação e apreensão de documentos e outros meios de prova
de interesse para a descoberta da verdade”, pois poderão estar em causa “factos
susceptíveis de constituir crimes de prevaricação, de corrupção activa e
passiva de titular de cargo político e de tráfico de influência”. O comunicado
acrescentava que o Ministério Público emitira mandados de detenção do chefe de
gabinete do primeiro-ministro e da constituição como arguido de outros
suspeitos, designadamente do Ministro das Infraestruturas. Depois, o comunicado
levantava suspeitas sobre o próprio primeiro-ministro e informava que “tais
referências serão autonomamente analisadas no âmbito de inquérito instaurado no
Supremo Tribunal de Justiça, por ser esse o foro competente”.
António Costa deve
ter ficado em estado de choque perante este comunicado, tendo entendido que o poder
judicial estava a interferir na política governamental e decidiu demitir-se. Foi
um acto de grande dignidade e o país avaliará quem tem razão.
Acontece que, nos
últimos anos, a sociedade portuguesa tem sido confrontada com frequentes insinuações
de supostos ilícitos de muitos dirigentes políticos e empresariais, que mais parecem
acções de perseguição pessoal e levam a “julgamentos na praça pública”, em vez
de procurarem a verdade. Muitas vezes, os factos nem precisam de ser provados, pois
alguma comunicação social encarrega-se da repetição das insinuações que, de
tanto repetidas, passam a ser tomadas como verdadeiras, num quase “terrorismo
mediático”. A conta-gotas, aparecerão agora as fugas de informação que os "pasquins de serviço" tratarão de manipular, para corromper a democracia e a sociedade. Este tipo de teia judicial-mediática que visa a eliminação política de
dirigentes e o descrédito da democracia, é vulgar na América Latina, mas também já chegou a Portugal. Há
quem lhe chame “golpe de estado judicial”.
Na política não há insubstituíveis,
mas eu presto a minha homenagem a António Costa pela sua dedicação à causa pública.