O jornal espanhol
El
Mundo, que é o segundo maior diário espanhol, anuncia hoje com destaque
de primeira página, que os Estados Unidos vão entregar ao reino de Marrocos 112
supermísseis terra-terra de três modelos diferentes e com alcances entre os 82
e os 305 quilómetros, bem como 18 lançadores HIMARS, o que vai alterar o
equilíbrio militar entre Marrocos e a Espanha. Estes lançadores de mísseis são
iguais aos que têm sido entregues à Ucrânia e que o presidente Zelensky tanto
tem elogiado, mas os mísseis são de potência superior aos que têm sido
fornecidos aos ucranianos. O jornal refere, ainda, que este milionário
investimento se enquadra num ambicioso plano para modernizar o exército
marroquino para poder disputar a hegemonia regional com a vizinha Argélia,
convertendo o reino de Marrocos numa potência regional até ao ano de 2030.
Nesta altura, Marrocos afecta cerca de 4,2% do PIB a despesas militares,
enquanto muitos países da NATO nem sequer atingem o valor de referência que é
2%.
Esta notícia interessa à Espanha, mas também interessa a Portugal, pois diz
respeito aos seus vizinhos do norte de África e é muito preocupante,
pois mostra que o negócio do armamento supera todos os outros interesses
partilhados pela Aliança Atlântica. É caso para pensar que alguns países da
NATO, como acontece com Portugal e com a Espanha, vão passar a estar
potencialmente ameaçados pelo reino de Marrocos, porque está a ser armado por
um outro membro da NATO. Significa que, a pretexto de se disputar a superioridade entre Marrocos e a Argélia, o negócio da venda de armas se sobrepõe às considerações
geopolíticas e aos interesses comuns dos membros da Aliança Atlântica. Quem nos diz
que o reino de Marrocos não quer regressar ao Al-Andaluz, como fez o Califado
Omíada no século VIII? É que tem havido declarações de responsáveis islâmicos a
reivindicar a recuperação do Al-Andaluz, que foi o nome que há doze séculos os invasores deram à Península Ibérica. Significa que há alianças e ameaças, que há paz e há guerra, mas o que conta são os negócios, inclusive de armamento.