segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

EDP e os seus jobs for the boys

A recente aquisição de capital da EDP pela China Three Gorges Corporation (CTG) tem sido interpretada como uma operação enquadrada numa estratégia chinesa de entrada na Europa por uma porta que tem ligações ao Brasil e à África lusófona. Por isso, já foi evidenciado o interesse chinês em outros sectores da nossa economia, como a banca, a rede eléctrica ou a indústria automóvel.
No próximo dia 20 de Fevereiro vai realizar-se uma Assembleia Geral extraordinária da EDP, que será a primeira desde que o Estado vendeu 21,35% da empresa à CTG. De acordo com a respectiva convocatória, há uma proposta para que no triénio 2012-2014 o Conselho de Administração executivo tenha 7 membros e continue a ser presidido por António Mexia, havendo uma outra proposta para que o Conselho Geral e de Supervisão tenha 23 membros e seja presidido por Eduardo Catroga, um dos homens que negociou com a troika a privatização da EDP e que, só por isso, não devia ter ligação à mesma. Alguns desses membros representam os diversos accionistas, onde se incluem quatro chineses da CTG, mas há alguns deles que apenas se representam a si próprios, como sucede por exemplo com Catroga, Cardona, Teixeira Pinto, Rocha Vieira e Braga de Macedo, o que é um claro sinal de clientelismo partidário e, uma vez mais, de promiscuidade entre a política e os negócios. Como referiu o Diário de Notícias , as novas nomeações são todas da "cor do governo". Tomadas as devidas diferenças, vem-nos à memória o caso BPN, apesar de sabermos que as pessoas que governarão a EDP são profissionais e não deixarão de atender aos interesses chineses. Quanto aos novos supervisores, terão que acumular mais uma mordomia bem remunerada às que já têm e, provavelmente, até irão receber em géneros. É um caso exemplar de jobs for the boys!

Negócios e política

A sociedade portuguesa está a atravessar um período de acentuada turbulência, sem se vislumbrar claramente como irá evoluir no futuro mais próximo. Como não bastassem a crise financeira e a estagnação económica, com as suas graves consequências sociais, estamos também confrontados com uma séria e preocupante crise da nossa democracia.
No passado Verão surgiram notícias que indicavam ter havido tráfico de informações entre interesses públicos (SIRP) e interesses privados (Ongoing Strategy SGPS, SA.), tendo os principais actores desse processo sido referenciados pelas suas ligações maçónicas.
Essa circunstância poderia não ter importância nenhuma. A Maçonaria é uma organização que se baseia em ideais nobres, como a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade, mas também nos bons costumes, no espírito filantrópico e na busca da perfeição, visando a construção do homem novo e de uma sociedade mais justa. Tem, naturalmente, os seus códigos de conduta e os seus rituais a que os seus membros obedecem, tal como acontece em muitas outras corporações ou irmandades.
E aqui começa a contradição, sobretudo quando a organização cultiva o segredo e os seus membros desempenham cargos públicos. O culto da fraternidade e da obediência maçónica são prestadas à irmandade a que pertencem os cidadãos e não são feitas ao interesse público, o que pode originar que a defesa de interesses particulares e o tráfico de influências se sobreponham a tudo o mais. Segundo relata a Imprensa, assim parece ter acontecido com a já célebre Loja Mozart, onde sob a capa da fraternidade maçónica, existia uma grande promiscuidade entre negócios e política. A Imprensa também anunciou que os aparelhos partidários eram dominados pela Maçonaria, o que torna mais grave e mais preocupante esta situação.
Acontece que o SIRP (Sistema de Informações da República Portuguesa) está na dependência directa do Primeiro-Ministro e tem por finalidade a produção de informações necessárias à salvaguarda da independência nacional e à garantia da segurança interna. Por isso, não pode estar dominado por gente que não se sabe de onde veio e que, como se tem visto, não tem a noção de serviço público nem de missão cívica.
Quem olha por isto?

O novo-riquismo do nosso futebol

O diário desportivo espanhol as divulgou recentemente uma pesquisa jornalística conduzida por Aritz Gabilondo, que conclui que a Espanha será a selecção que menos pagará por noite de hotel de entre todas as que participarão no Europeu de Futebol, que se disputará no próximo mês de Junho na Polónia e Ucrânia.
As selecções que menos gastarão diariamente para alojar cerca de quarenta pessoas, incluindo jogadores, técnicos, directores e outros membros da delegação, são a Espanha (4.700 euros), a Dinamarca (7.400 euros), a Croácia (8.300 euros) e a Itália (10.500 euros).
No outro extremo desta relação encontram-se a Irlanda (23.000 euros), a Polónia (24.000 euros), a Rússia (30.400 euros) e Portugal (33.174 euros), que são as delegações que mais pagarão diariamente para alojar as suas delegações.
Embora com as limitações que este trabalho do diário espanhol possa ter, a serem verdadeiras as suas conclusões, verifica-se que a delegação portuguesa é aquela que mais vai pagar pelo seu alojamento num hotel em Opalenica, na Polónia.
Se os números divulgados são correctos, então a despesa diária de cada elemento da delegação portuguesa será de quase mil euros. Parece inacreditável como foi possível escolher um hotel por este preço, mesmo que responda às possíveis necessidades desportivas dos futebolistas. Sete vezes mais caro do que o hotel escolhido pelos campeões do mundo e da Europa!
É desproporcionado. É um exagero. É o deslumbramento total.
Num ano em que estamos confrontados com dificuldades, com mais impostos, mais desemprego, aumento do custo de vida e com os assalariados e os pensionistas a não receberem o 13º e o 14º meses, este despesismo novo-riquista da Federação Portuguesa de Futebol deixa-nos perplexos e desconfiados.