quarta-feira, 7 de agosto de 2024

EUA: a corrida eleitoral vai agora começar

Após a desistência de Joe Biden da sua corrida para a presidência dos Estados Unidos, a candidatura de Kamala Harris não só veio travar a acelerada queda reputacional dos democratas, como permitiu o relançamento e a unidade do Partido Democrata, trazendo para a campanha novos e generosos apoios, um novo entusiasmo dos eleitores, um novo discurso político e uma outra agressividade em relação ao seu adversário, o candidato republicano Donald Trump.
O entusiasmo em torno de Kamala Harris fez com que, antes da convenção democrata que vai acontecer entre 19 e 22 de agosto, tivesse havido uma votação online que decorreu durante cinco dias, na qual os delegados democratas à convenção anteciparam a sua escolha, o que permitiu que, na noite do dia 5 de agosto, o Partido Democrata tivesse nomeado oficialmente Kamala Harris como a sua candidata presidencial. No dia seguinte, a candidata escolheu Tim Walz, o governador do Minnesota, como candidato do seu partido à vice-presidência. Os jornais americanos, designadamente o The New York Times, destacaram essa escolha na sua edição de hoje que, aparentemente, veio valorizar a candidatura democrata.
A partir de agora, se do lado republicano já havia o par Trump-Vance, do lado democrata apareceu o par Harris-Walz.
A verdadeira luta eleitoral vai agora intensificar-se quando faltam apenas noventa dias para uma eleição presidencial que é importante para os Estados Unidos e para o mundo. O nosso futuro também depende das próximas escolhas políticas americanas. Nesta altura há sondagens e previsões para todos os gostos, ao mesmo tempo que as televisões portuguesas dedicam alargados espaços ao momento político americano, quase parecendo que Portugal é o 51º estado dos Estados Unidos.
Noventa dias é pouco tempo, mas também é muito tempo. 
A Terra continuará a girar em torno do sol...

Cuba e o seu pentacampeão olímpico

Nos Jogos Olímpicos que estão a decorrer em Paris participam 206 países e 10.714 atletas que competem em 32 modalidades desportivas e, naturalmente, vão acontecendo proezas invulgares protagonizadas por muitos dos atletas participantes, que vão justificando o lema olímpico Citius, Altius, Fortius, isto é, mais rápido, mais alto, mais forte.
O caso do lutador cubano Mijaín López Núñez que, aos 41 anos de idade, acaba de vencer a final olímpica de luta greco-romana na categoria de peso superpesado (até 130 kilos), merece ser destacado porque, pela primeira vez, um atleta olímpico conquistou cinco medalhas de ouro consecutivas na mesma categoria. O atleta Mijaín López Núñez já era pentacampeão pan-americano e pentacampeão mundial de luta greco-romana, mas agora tornou-se pentacampeão olímpico, pois venceu a mesma prova em Pequim 2008, em Londres 2012, no Rio 2016, em Tóquio 2020 e, agora, em Paris 2024, onde bateu os seus adversários do Azerbaijão, do Irão, da Coreia do Sul e do Chile, sempre de forma expressiva. É um caso único na história das modernas Olimpíadas e o jornal Granma, o “organo oficial del Comité Central del Partido Comunista de Cuba”, destacou esta proeza do atleta cubano com fotografia e com a frase “Mijain es Cuba”. Por sua vez, o atleta reconhecido afirmou “sentirse orgulloso de ser cubano, de darle a Cuba todo lo que me enseñó”, pois “cada medalla olímpica y mundial lleva ese sentimiento”.
Esta intimidade cubana entre Desporto e Política, que ressalta da notícia do Granma, só aparentemente impressiona, porque o ideal olímpico está cada vez mais adulterado e a generalidade dos atletas olímpicos de todos os países do mundo beneficia de substanciais apoios governamentais para a sua preparação, embora poucos mostrem a gratidão de Mijaín López Núñez.
Sim, o desporto olímpico já não é o que era…

Caças F-16 chegaram à Ucrânia. E agora?

Volodymyr Zelensky e a imprensa internacional anunciaram que os primeiros caças F-16 de fabrico americano, há muito pedidos pelo governo ucraniano, já se encontram no país, embora também tenha sido revelado que este número é insuficiente para as necessidades e que há falta de pilotos habilitados para os operar.
Apesar de meio mundo andar anestesiado com os Jogos Olímpicos, a edição de hoje do jornal La Dépêche du Midi, que se publica em Toulouse, dá notícia deste acontecimento e pergunta de estaremos perante um ponto de viragem na guerra. Eu respondo: não sei se é ponto de viragem, mas é certamente um sinal de agravamento do conflito e, portanto, aumentam os riscos da guerra alastrar aos países vizinhos ou mesmo aos aliados da NATO. De facto, depois dos tanques alemães Leopard e dos tanques americanos M1 Abrams, a seguir aos mísseis dos mais diversos tipos e aos sistemas de defesa aérea, agora a aposta é feita nos caças F-16, o que parece dar razão aos observadores que têm afirmado que “a NATO já está na Ucrânia e está cada vez mais alinhada com a política externa americana”. A chegada destes primeiros dez aviões F-16 tem um significado essencialmente simbólico, mas levanta uma questão abundantemente divulgada na internet: “if the F-16’s fail, what is the next wonder weapon the West can send to Ukraine?”. Daí que o uso de armas nucleares tácticas seja uma permanente ameaça e possa ser o passo seguinte.
Ao fim de tanto tempo, tanta tragédia humana e tanta destruição, continua a ser incompreensível a lógica de guerra que partilham ambas as partes, bem como os seus aliados e amigos. Entretanto, o governo chinês apresentou uma proposta para acabar com a guerra na Ucrânia que tem o apoio de 110 países e, segundo revela a imprensa, “mais de metade dos ucranianos quer negociações com a Rússia para acabar a guerra”, enquanto “a maioria dos russos defende a abertura de negociações de paz para a guerra da Ucrânia”. Com este quadro informativo pode perguntar-se porquê se insiste tanto na guerra, ou que interesses estão por detrás dela.