domingo, 11 de março de 2018

A caravela-portuguesa veio dos trópicos

O título da edição de hoje do diário Faro de Ceuta até pode assustar os ceitis porque lhes pode lembrar o dia 21 de Agosto de 1415, quando chegaram à baía de Ceuta cerca de 212 embarcações, incluindo naus, caravelas, galés e outras embarcações menores, onde iam embarcados 20 mil homens comandados pelo rei D. João I para conquistar a cidade. De facto, a notícia de que a caravela portuguesa [está] em Ceuta, bem poderia referir-se ao episódio da chegada das caravelas e de outros navios portugueses à baía de Ceuta, acontecido há 602 anos.
Porém, a caravela-portuguesa referida na notícia é a physalia physalis que, segundo o meu amigo Google, é um organismo pluricelular ou uma colónia de organismos geneticamente idênticos e altamente especializados que aparentam ser uma única criatura e cuja principal toxina é a physaliatoxina. Têm cores diversas, tentáculos com células urticantes que podem atingir 30 metros de comprimento e vivem na superfície do mar das regiões tropicais, flutuando graças a um flutuador cilíndrico cheio de gás.
Provavelmente, devido a condições oceanográficas desconhecidas, a Portuguese man o’war que é parecida com uma alforreca, foi deslocada pelo vento desde as regiões tropicais até ao sul da península Ibérica. Apareceu nas praias de Ceuta onde causou alarme e foi notícia de primeira página no Faro de Ceuta, mas também nas praias da Manta Rota e Monte Gordo, no sotavento algarvio, o que levou a autoridade marítima a difundir conselhos às populações marítimas devido ao seu elevado poder urticante e elevada perigosidade. Para quem ande no mar ou vá à praia, há que ter muito cuidado, mas não deixa de ser curioso o nome deste organismo inspirado na aventura marítima portuguesa dos séculos XV e XVI.

Amoco Cadiz: o naufágio de má memória

O jornal bretão Le Télégramme dedica a sua edição de hoje ao encalhe do Amoco Cadiz, porventura o mais simbólico dos grandes acidentes marítimos acontecidos com super-petroleiros ou VLCC (Very Large Crude Carrier).
O histórico naufrágio sucedeu no dia 16 de Março de 1978 na costa da Bretanha e o navio de 334 metros de comprimento e 51 metros de boca partiu-se em dois, tendo provocado o derramamento de muitas toneladas de petróleo numa mancha principal que media 16 quilómetros de largura por 72 quilómetros de comprimento, o que foi um dos maiores desastres ambientais até então ocorridos no planeta.
Infelizmente para o meio ambiente, as tragédias com petroleiros têm continuado e os desastres do Exxon Valdez em 1989 no Alasca, do Erika em 1999 na baía da Biscaia e do Prestige em 2002 nas costas da Galiza, são apenas alguns exemplos dos desastres ambientais provocados pelos super-petroleiros. Porém, o caso do Amoco Cadiz continua a ser o exemplo mais clássico e mais lembrado de entre todos. Na Bretanha e um pouco por toda a França, milhares de voluntários mobilizaram-se durante vários meses para limpar as praias, onde foi muito profundo o impacto ecológico dessa catástrofe sobre o litoral, a sua fauna e a sua flora. O naufrágio do Amoco Cadiz marcou uma enorme mudança em relação às preocupações quanto à segurança marítima e foi um alerta para a sensibilização das autoridades e das opiniões públicas.
“O dia mais negro”, pelo seu significado, foi oportunamente evocado pelo Le Télégramme quando se perfazem 40 anos sobre esse naufrágio de má memória.