quinta-feira, 2 de maio de 2013

Aníbal, o Avisador



A tradição histórica portuguesa atribuiu a todos os Reis de Portugal um cognome que, em relação a cada um, define uma qualquer característica dominante da sua acção, da sua personalidade ou do seu aspecto físico, que o distinguiu dos seus antecessores e dos seus sucessores. Assim, desde 1139 tivemos, por exemplo, O Conquistador, O Povoador, O Agricultor, O Justiceiro, O Africano, O Príncipe Perfeito e O Desejado. Depois, tivemos O Magnânimo, A Piedosa, O Clemente, A Educadora e esta sucessão acabou com D. Manuel II em 1910 com O Patriota.
Com a implantação do regime republicano essa tradição dos cognomes perdeu-se e Manuel de Arriaga, António José de Almeida, Américo Thomaz, Mário Soares ou Jorge Sampaio não ficaram na nossa história com qualquer cognome. Porém, parece que as coisas estão a mudar e que agora temos Aníbal, o Avisador. Quando se esperava uma acção mobilizadora e o exercício de um poder moderador da Presidência da República e se desejava um exemplo de austeridade e de poupança nas despesas presidenciais com assessores, conselheiros, viagens e viaturas, verificamos que em cada discurso ou em cada declaração domina o aviso, sendo muitas vezes referido “que não foi por falta de aviso” ou “eu já tinha avisado”. No recente e controverso discurso do 25 de Abril voltou à mesma ideia e disse: "Não me venham dizer depois que eu não avisei em devido tempo". Não há paciência para ouvir isto. Fazer avisos é a matéria em que se especializou e, presidencialmente, isso é muito pouco na actual situação por que passamos. Não é assim que se fica na história.