sexta-feira, 18 de setembro de 2015

União Europeia está sem rumo e à deriva

São terríveis e muito dolorosas as imagens e as notícias que diariamente nos chegam sobre os refugiados que procuram fugir às guerras, de cujas responsabilidades os líderes europeus não estão isentos. É um retrato de uma Europa sem rumo, incapaz de sair da sua zona de conforto e definir uma estratégia comum de solidariedade para com os que procuram a paz, esquecendo um passado recente em que ela própria gerou milhões de refugiados. Essa incapacidade agora evidenciada de forma chocante nas fronteiras da Hungria, mas também nas medidas já tomadas pelas autoridades alemãs, austríacas, eslovacas, eslovenas e croatas, já se tinha revelado em relação à política internacional e, em especial, na forma desordenada como alguns dos seus membros actuaram militarmente no Iraque, na Líbia e na Síria. Da mesma forma, as suas posições na Ucrânia não auguram nada de bom. Além disso, a União Europeia não tem sido capaz de assumir políticas comuns viradas para o crescimento e para o emprego, estando cada um dos seus estados-membros a refugiar-se nos seus interesses nacionais e num absoluto egoismo, incompatível com o espírito do Tratado de Roma.
Paradoxalmente (ou não) os dirigentes da União Europeia têm-se mostrado muito activos em relação à crise financeira que tem penalizado gravemente os países do sul, mostrando-se intransigentes em relação às suas “dívidas soberanas”e aos juros especulativos que lhes são cobrados, que põem em causa a sua própria sobrevivência. Essa intervenção, em que se tem destacado o Eurogrupo e um tal Jeroen Dijsselbloem, tem sido um rotundo falhanço, uma constante manipulação do medo e da incerteza e uma permanente ameaça, principalmente para os gregos, mas também para os portugueses, os espanhóis, os italianos e os cipriotas. Porém, enquanto para tratar da governação, da dívida e do futuro da Grécia se fizeram maratonas de reuniões, o drama dos refugiados apanhou Bruxelas de surpresa e mostrou que a solidariedade europeia é uma farsa. É caso para perguntar a Durão Barroso, que tão activo esteve no apoio à invasão do Iraque, porque não pensou que as guerras que alimentou, ou não contrariou, haveriam de gerar a multidão de refugiados que estão a chegar à Europa. Ele e a sua corte de assessores não pensaram nisso.
A União Europeia está mesmo sem rumo e à deriva!

A pressão internacional sobre os catalães

Aproxima-se o dia 27 de Setembro em que se vão realizar as eleições regionais na Catalunha e em que, mais importante do que escolher o novo Parlamento e o futuro Chefe do Governo, os catalães vão expressar a sua vontade quanto à sua independência e à separação da Espanha. De acordo com o que se vai lendo na imprensa espanhola, em que uma parte está alinhada com o soberanismo catalão e outra parte com o centralismo madrilista, as intenções de voto nas duas correntes estão muito próximas e o resultado eleitoral é imprevisível.
Porém, a diplomacia espanhola tem estado muito activa e até Filipe VI visitou Barack Obama, sucedendo-se declarações dos maiores líderes ocidentais, como salientou na sua primeira página o diário conservador ABC, um dos periódicos que mais tem atemorizado os catalães com os riscos da sua deriva independentista. Ontem, o jornal juntou declarações de Barack Obama - “queremos uma Espanha forte unida”, Angela Merkel – “há que respeitar a legalidade internacional”, David Cameron - “quem se separa já não faz parte da União Europeia”, François Hollande – “desejamos uma Espanha forte e unida como agora” e Jean-Claude Juncker - “a Europa não aceita uma Catalunha independente”.
Não é habitual um jornal tomar uma posição editorial tão afastada da neutralidade, da verdade, do rigor, da isenção e da independência, que devem ser as normas jornalísticas por excelência. Porém, neste caso e como diria o nosso Luís de Camões, “cesse tudo o que a musa antiga canta, que outro poder mais alto se alevanta”... Além disso, o jornal é frontal no seu posicionamento, não engana, não insinua, não usa a manha e não vende gato por lebre.