sexta-feira, 21 de junho de 2024

As práticas culturais portuguesas em Goa

No século XVI o nosso país foi uma potência marítima à escala global e os portugueses “por mares nunca de antes navegados, passaram ainda além da Taprobana”, tendo sido pioneiros do primeiro esboço da moderna globalização e do primeiro encontro de culturas entre o ocidente e o oriente. Passados cerca de quatro séculos, já pouco resta desse tempo de hegemonia económica e tecnológica dos portugueses, ou da influência cultural que exerceram em tantas geografias distantes.
Essa realidade é observável em diversas regiões marítimas da orla do oceano Índico e, mais recentemente, começa a observar-se também em Macau, em Timor e em Goa.
Por isso, quando na sua edição de hoje o jornal O Heraldo, que desde 1900 se publica em Goa, inclui com destaque de primeira página um anúncio sobre as festas de São João que se realizam em Utorda Beach, no distrito de Salcete, não é apenas uma curiosidade, mas também é um exemplo da sobrevivência da língua portuguesa num território cujas línguas oficiais são o inglês e o concanim. Festejar o São João e não o Saint John, é um pequeno acontecimento mas que é culturalmente relevante, pois mostra que algumas práticas culturais portuguesas têm sobrevivido à natural e progressiva indianização cultural do estado de Goa que, pela natural evolução da vida local, vem acontecendo desde 1961.

Sanjoaninas: a festa maior dos Açores

As nove ilhas do arquipélago dos Açores constituem uma região autónoma integrada na República Portuguesa desde 1976. No conjunto das ilhas ou na especificidade de cada uma, os seus espaços físicos e culturais distinguem-se e impressionam o visitante, quer pela exuberância da paisagem marítima, quer pela singularidade das suas práticas culturais, tanto religiosas como profanas.
De entre todas as ilhas destaca-se a ilha Terceira, pelo seu relevante protagonismo na História de Portugal e por ser a mais “festeira” de todas as ilhas do arquipélago, havendo uma expressão popular que afirma que “os Açores são oito il,has mais um parque de diversões” (que é a ilha Terceira). É na ilha Terceira que se apresentam os bailinhos de Carnaval, que desfilam as marchas populares e que o povo vibra com as touradas à corda mas, sobretudo, se organizam as grandes festas no Verão, em especial nas cidades da Praia da Vitória e de Angra do Heroísmo. Na cidade de Angra, que a UNESCO classificou em 1983 como património da Humanidade, festejam-se as famosas Sanjoaninas, que são consideradas as maiores festas lúdicas dos Açores e que, nesta edição de 2024, celebram os 50 anos do 25 de Abril, sob o tema “Angra: teu nome é Liberdade”.
Entre os dias 21 e 30 de junho, as Sanjoaninas 2024 vão encher as ruas da cidade de Angra do Heroísmo com concertos, gastronomia, tauromaquia, desporto, desfiles, exposições e marchas populares, num encontro de tradição e modernidade em que a marca libertadora do 25 de Abril vai estar presente.
Para quem alguma vez assistiu às Sanjoaninas, facilmente concluiu que a ilha Terceira e a cidade de Angra são mesmo um parque de diversões…