Não é vulgar, mas aconteceu. O autor do livro Roteiros VI decidiu divulgar o respectivo prefácio antes da respectiva publicação, mas não foi por estratégia comercial. Dizem que é um público ajuste de contas com o anterior Primeiro Ministro e, de facto, ele que tanto poupa os amigos e nunca tomou posição sobre o caso BPN, revela-se implacável para com o homem com quem cohabitou politicamente durante vários anos. É muito estranho. É mesmo muito estranho.
Logo na primeira frase do seu texto é referida uma campanha eleitoral “muito dura, sobre a qual este não é ainda o momento de escrever”. Porém, ele escreve sobre outros momentos mais recentes como “a crise política de 2011” como se fosse um comentador e ignora a sua condição de político que mais tempo tem de poder em Portugal e que, por isso, tem muitas responsabilidades “no estado da nação”.
No complexo momento que atravessamos que tanto necessita de consensos, este capítulo do prefácio é absolutamente inoportuno e impróprio da equidistância e da solenidade de que se devem revestir as intervenções do supremo magistrado. O eleitorado já fez o julgamento político do anterior Primeiro-Ministro, que deixou a cena política e não se pode defender. Porquê agora tanta “coragem política”? Por causa das desgraçadas declarações sobre as suas reformas que esta semana levaram 40 mil portugueses a pedir a sua demissão numa petição entregue na Assembleia da República? Pela sua acentuada quebra de popularidade que os estudos de opinião têm assinalado? Pela abortada deslocação a uma escola com receio de enfrentar os protestos de um grupo de jovens? Para que nos esqueçamos do despesismo presidencial?
O autor do prefácio deixou-se arrastar por instintos mesquinhos e sem elevação nem grandeza pessoal, uniu a oposição socialista e, sobretudo, mostrou que se a nossa crise se agravar, o supremo magistrado não tem condições para a gerir.
E isso é muito mau.
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