domingo, 14 de julho de 2019

A Turquia e a NATO: um grande problema

A Turquia começou a receber as primeiras componentes do sistema de defesa aéreo russo S-400, que foram transportados a bordo de três aviões Antonov-124 para a base aérea turca de Murted. Estima-se que a operação fique concluída no fim do Verão, quando estiverem instalados os 120 mísseis que compõem o sistema.
A compra deste moderníssimo sistema pelos turcos deixou a NATO muito inquieta, ou mesmo em sobressalto, porque a Turquia é o mais antigo dos membros não fundadores da organização e é considerada, desde 1952, como o pilar sueste da Aliança atlântica, além de possuir o segundo exército mais numeroso de entre todos os membros da NATO. Porém, desde que os islamitas chegaram ao poder em 2002 e, sobretudo actualmente, com a presidência de Recep Erdogan, os turcos tornaram-se críticos de muitas posições da NATO e dos Estados Unidos, nomeadamente no Afeganistão, na Síria, na Líbia e no apoio aos curdos.
A aproximação russo-turca começou depois da tentativa de golpe de estado turco de Julho de 2016, quando a Turquia e a Rússia ainda eram adversários no conflito sírio, mas segundo o jornal Le Monde há muitas coisas em comum entre “o novo czar” e o “novo sultão”, pelo que o entendimento entre ambos parece ser natural. Entretanto, a administração americana deu um prazo à Turquia para renunciar a esta aquisição, sob pena de severas sanções económicas, incluindo o cancelamento do programa de construção de aviões F-35, que prevê a participação de empresas turcas.
Ao receber as primeiras componentes do sistema S-400, a Turquia assume a sua escolha geoestratégica e enfrenta as orientações estratégicas da NATO. Porém, os estatutos da NATO não prevêem a possibilidade de exclusão de um estado-membro, nem mesmo de o suspender, mas a purga feita nas Forças Armadas turcas pelo regime de Erdogan a pretexto no seu envolvimento no golpe de 2016, já vinha marginalizando a Turquia.
É um problema novo e sem precedentes na história da NATO. Como diz o Le Monde “jouer sur les deux tableaux ne sera pas longtemps possible”.