A Turquia começou
a receber as primeiras componentes do sistema de defesa aéreo russo S-400, que
foram transportados a bordo de três aviões Antonov-124 para a base aérea turca
de Murted. Estima-se que a operação fique concluída no fim do Verão, quando
estiverem instalados os 120 mísseis que compõem o sistema.
A compra deste
moderníssimo sistema pelos turcos deixou a NATO muito inquieta, ou mesmo em sobressalto,
porque a Turquia é o mais antigo dos membros não fundadores da organização e é
considerada, desde 1952, como o pilar sueste da Aliança atlântica, além de possuir
o segundo exército mais numeroso de entre todos os membros da NATO. Porém,
desde que os islamitas chegaram ao poder em 2002 e, sobretudo actualmente, com
a presidência de Recep Erdogan, os turcos tornaram-se críticos de muitas posições
da NATO e dos Estados Unidos, nomeadamente no Afeganistão, na Síria, na Líbia e
no apoio aos curdos.
A aproximação
russo-turca começou depois da tentativa de golpe de estado turco de Julho de 2016,
quando a Turquia e a Rússia ainda eram adversários no conflito sírio, mas
segundo o jornal Le Monde há muitas coisas em comum entre “o novo czar” e o “novo
sultão”, pelo que o entendimento entre ambos parece ser natural. Entretanto, a
administração americana deu um prazo à Turquia para renunciar a esta aquisição,
sob pena de severas sanções económicas, incluindo o cancelamento do programa de
construção de aviões F-35, que prevê a participação de empresas turcas.
Ao receber as
primeiras componentes do sistema S-400, a Turquia assume a sua escolha
geoestratégica e enfrenta as orientações estratégicas da NATO. Porém, os
estatutos da NATO não prevêem a possibilidade de exclusão de um estado-membro,
nem mesmo de o suspender, mas a purga feita nas Forças Armadas turcas pelo
regime de Erdogan a pretexto no seu envolvimento no golpe de 2016, já vinha marginalizando
a Turquia.
É um problema
novo e sem precedentes na história da NATO. Como diz o Le Monde “jouer sur les
deux tableaux ne sera pas longtemps possible”.