segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Meios de guerra e diplomacia económica

A acção da jihad islâmica continua a surpreender e a merecer o repúdio do mundo civilizado e, para além do núcleo duro da coligação internacional que a combate, alguns países islâmicos também já tomaram algumas iniciativas de força contra o ISIS, como foram os casos da Jordânia, do Egipto e da Turquia. Estas iniciativas mostram como tem evoluido a percepção da gravidade das acções do ISIS e do jihadismo, mas também mostram que estão a ser mobilizados mais meios militares para os combater. Assim acontece com a França que, para além dos seus alinhamentos e alianças, tem aí uma oportunidade para afirmar o seu prestígio e poder militar no mundo.
Hoje, a edição do diário Le Parisien noticia que o porta-aviões nuclear francês Charles-de-Gaulle, que navega ao largo do Bahreïn, “entrou em guerra contra o Daech” e que os primeiros aviões de caça Rafale descolaram esta manhã em direcção ao Iraque para cumprirem missões de reconhecimento ou de ataque contra as forças jihadistas no Iraque. O navio-almirante da Marinha francesa juntou-se ao porta-aviões americano Carl Vinson, passando a integrar a força conjunta da coligação internacional coordenada pelos Estados Unidos. Até agora a França dispunha de nove aviões Rafale na base francesa de Al-Dhafra, no Abu Dhabi, e seis aviões Mirage 2000D baseados em Azraq, na Jordânia. Com os 12 aviões Rafale e os 9 aviões Super Étendard embarcados no porta-aviões, mais do que duplica o dispositivo francês na região. Porém, o Charles-de-Gaulle ficará apenas oito semanas no golfo Pérsico, porque em finais de Abril irá participar num exercício aéreo com a Índia.
Este exercício, evidentemente, está relacionado com o negócio da venda à Índia de 126 aviões Rafale, por cerca de 20 mil milhões de dolares. A assinatura do respectivo contrato tem sido adiada desde há três anos e há fortes pressões para que a Índia opte pelos aviões russos Su-30MKI e Mig-29K. O novo governo do primeiro-ministro Narendra Modi, parece hesitar na escolha. Nestas circunstâncias, ficamos sem saber qual das duas missões do porta-aviões Charles-de-Gaulle é a mais importante: a missão militar de combate ao ISIS ou a missão de diplomacia económica de apoio ao negócio dos 126 Rafale ou, ainda se, como diz a publicidade, simplesmente são dois em um...

Gibraltar e a Espanha: os prós e contras

De vez em quando os espanhóis publicitam notícias sobre Gibraltar para que o tema não seja esquecido pela sua opinião pública. Assim faz hoje a edição do conservador ABC com uma sugestiva e eloquente capa alusiva ao crime associado ao “paraíso fiscal” que é o Peñón, a designação que os espanhóis dão a Gibraltar.
Gibraltar é uma pequena península situada no extremo sul da Península Ibérica que está sob soberania britânica mas, segundo escreveu e cantou em meados do século passado o cantor andaluz Antonio Molina, é uma “espina en el corazón de mi España soberana”.  O rochedo de Gibraltar foi ocupado em 1704 por forças anglo-holandesas e essa ocupação veio a ser reconhecida pela Espanha no Tratado de Utrecht de 1713 “para sempre, sem qualquer excepção ou impedimento”, como parte do pagamento indemnizatório da Guerra da Sucessão Espanhola. No entanto, a Espanha mantém a reivindicação sobre o Peñón, situação a que os 30 mil gibraltinos já se opuseram nos referendos realizados em 1967 e 2002, com a esmagadora maioria da população a rejeitar a partilha de soberania entre o Reino Unido e a Espanha. A presença britânica em Gibraltar é litigiosa e fere o orgulho espanhol, embora a Espanha também mantenha situações litigiosas de sinal contrário em Ceuta, Melilla e Olivença.
Gibraltar comporta-se como um “paraíso fiscal” e tem modos de vida que são perturbadores para a Espanha pois são verdadeiros focos do crime organizado, sobretudo o contrabando de tabaco e de outros produtos, o branqueamento de capitais e, em menor grau, o tráfico de drogas. Por isso, as autoridades espanholas mostram-se preocupadas e vieram revelar que haverá quinze grupos de crime organizado em Espanha com ligações a Gibraltar. O caso do contrabando de tabaco é, porventura, o mais relevante pois que se estima que origine uma quebra anual de impostos especiais e IVA de quase 10 mil milhões de euros aos cofres dos países comunitários. Já no que respeita ao branqueamento de capitais as preocupações espanholas são mais moderadas pois parece que o dinheiro lavado se dirige para o investimento imobiliário na Costa del Sol...
São os prós e os contras de Gibraltar e dos seus modos de vida em relação à Espanha.