sábado, 11 de junho de 2022

A Cimeira das Américas vale muito pouco

Decorreu em Los Angeles a Cimeira das Américas, uma reunião entre os estados americanos do norte, do sul e das Caraíbas, que se realizou pela primeira vez em 1994 por iniciativa do presidente Bill Clinton. Segundo foi divulgado, os principais temas a abordar nesta Cimeira eram a pandemia do covid-19, as migrações, as alterações climáticas e a segurança alimentar, mas as notícias que foram transmitidas mostram que a reunião foi um fiasco e que os Estados Unidos se afastaram do principal objectivo destas Cimeiras das Américas que é, sobretudo, o fortalecimento da coesão entre os países do continente. 
Assim, houve sete países que não participaram na Cimeira em protesto contra o facto de os Estados Unidos não terem convidado Cuba, Nicarágua e Venezuela, com o argumento de que não eram regimes democráticos. Entre os países que mais criticaram o autoritarismo da opção americana estiveram o México, a Bolívia, o Chile, a Argentina e as Honduras que, explícita ou implicitamente, rejeitaram a postura hegemónica ou neo-colonial dos americanos. 
Aparentemente, os americanos incentivaram a desunião latino-americana, mas conseguiram reafirmar a sua liderança do continente, enquanto os líderes dos países participantes ficaram satisfeitos com a sua fotografia ao lado de Joe Biden, o que lhes bastou para impressionar as suas próprias opiniões públicas no regresso a casa. À margem deste encontro que constituiu a IX Cimeira das Américas, o Brasil esteve em destaque, pois Jair Bolsonaro – que foi fotografado com Joe Biden – garantiu-lhe que sairá da presidência do Brasil de forma democrática, se for esse o sentido do voto popular, o que foi destacado pelo jornal Folha de S. Paulo. Por outro lado, houve sete dezenas de organizações não-governamentais que acusaram Bolsonaro de mentir em relação à protecção ambiental, à segurança alimentar mundial e à preservação da Amazónia, isto é, a IX Cimeira das Américas parece ter sido uma grande operação de Relações Públicas e pouco mais. 

O golpe de Trump e o assalto ao Capitólio

Nas eleições presidenciais americanas realizadas no dia 3 de Novembro de 2020, o candidato Joe Biden conseguiu eleger 306 delegados para o Colégio Eleitoral, enquanto o então presidente Donald Trump só conseguiu 232 delegados. No contexto de todo o território americano, Biden recolheu 51,4% dos 155 milhões de votos e Trump ficou-se pelos 46,9%. Porém, Donald Trump não aceitou o resultado eleitoral e afirmou terem sido contados votos fraudulentos, mas a recontagem dos votos não revelou quaisquer irregularidades substantivas. Vieram dezenas de processos judiciais a impugnar os resultados, mas Trump perdeu-os todos. Depois repetiu exaustivamente a acusação de fraude eleitoral e procurou impedir a vitória de Joe Biden, mas em meados de Dezembro o Colégio Eleitoral confirmou-a. Até que chegou o dia 6 de Janeiro de 2021, em que o Congresso dos Estados Unidos ratificou oficialmente a vitória de Biden, ao mesmo tempo que Donald Trump e os seus apoiantes se concentravam em Washington, provocavam tumultos e decidiam invadir o Capitólio, a casa da democracia americana, onde reúnem o Senado e a Câmara dos Representantes. Houve falhas de segurança e com muita violência os invasores destruíram o que encontraram e ameaçaram quem encontraram. Houve cinco mortos e dezenas de feridos.
Agora, uma comissão parlamentar de inquérito que está a investigar o papel de Trump nesse assalto ao Capitólio, veio revelar que não foi um momento espontâneo, mas um attempted coup, isto é, uma tentativa de golpe de estado. Naturalmente, esta conclusão preliminar está a ter um efeito devastador nos princípios democráticos americanos e na herança das convenções de Filadélfia de 1776 e de 1787. Era impensável que isto acontecesse. Porém, Donald Trump já veio declarar que “o seis de Janeiro não foi apenas um protesto, pois foi um dos maiores movimentos da História do nosso país para tornar a America great again”.
Os Estados Unidos já têm muitos problemas e bem podiam evitar esta indesejável perturbação da sua Democracia, que tanto inspira muitas outras democracias por este mundo. America is watching escreve o Daily News, mas nós também observamos com preocupação estes sinais de instabilidade política no mais poderoso país do mundo.